sábado, 25 de junho de 2022

ESPÍRITO LUCIFERIANO

Recuso o jogo podre da realidade,
o juízo pestilento de deus
e os poderes do homem
de Estado e de Igrejas.

As tempestades da liberdade
me embriagam o juízo
contra a ordem vigente e suas disciplinas.
Jamais me curvarei ao tribunal da razão ou as hipocrisias do coração. 

Sou feito da vida selvagem
das encruzilhadas
contra a moral em linha reta dos fracos e obedientes.

Sou filho do fogo e da revolta,
um luciferiano espírito criador
adversário de todos os rebanhos,
transfigurado em bigorna e martelo.



terça-feira, 21 de junho de 2022

MUDAR O MUNDO

Nossa existência não muda este mundo
que nos ignora,
que nos reduz a nada,
e nos mata aos poucos.

Mesmo assim incomoda,
resiste e protesta.
Não se conforma.

Um dia seremos maiores do que o mundo.






segunda-feira, 20 de junho de 2022

O INCONCEBÍVEL

Quero aquilo
que impõe aos olhos
a nudez do mundo,
do tempo e da vida;

O que não faz sentido,
o que não  cabe em palavras,
mas persegue a escrita,
o que foge, transborda,
sem rosto ou nome,
silênciando o dia
e gritando a noite.

Preciso daquilo 
que transcende o nada, a angustia e o luto, 
mas despreza o Ser e a palavra,
que nos rasga vontades, pensamentos e verdades,
que nos apresenta ao extremo,
ao que não  tem limite,
 recusando propósitos
e debochando de  toda explicação.

Falo daquilo que não é humano,
mas um resto de bicho, de gente, e de mato,
tudo misturado,
perdido e fedido
 em qualquer  buraco.

 Os olhos não podem fugir
da transfigurada experiência 
do avesso do mundo,
do tempo, da vida
e do humano.

A nudez do mundo
é o lado de fora de tudo que existe,
é a morte, o silêncio,
e o excremento universal.









domingo, 19 de junho de 2022

PALAVRAS MORTAS

Despidas de imaginação, 
esvaziadas de transgressão,
palavras não tem alma,
não passam de uma prisão,
informação vazia
ou enunciação burocrática,
que não  inventa pensamentos
ou se faz acontecimento,
que não acorda o corpo
e transforma o mundo
na invenção do fora,
do outro,
além do sujeito que fala
enterrado em um rosto
que explode o silêncio. 



sábado, 11 de junho de 2022

SEMENTES

Livre de toda cotidiana miséria humana,
 indiferente a ordem perversa dos fatos,
brota na imaginação dos insensatos,
qualquer semente de liberdade,
de expontaneidade.

Ela cresce sem lei nos corpos insubmissos que adubam as terras do nunca,
onde prospera a loucura alegre de Baco
e todos deliram a esperança 


terça-feira, 7 de junho de 2022

A POESIA CONTRA O MUNDO


A poesia é  efêmera, 
e imanente indigência,
a iluminação profana dos dizeres que marcham  aqui e agora em delírante busca por liberdade.

Ela revela o inteiramente outro do mundo,
a invenção do sentido
em significações invertidas
por acontecimentos palavra.

A poesia é o nada,
qualquer coisa suja de humano
que nos escapa e move
contra o absurdo do mundo.




sábado, 4 de junho de 2022

PALAVRAS

As palavras não são navalhas.
Apesar de toda carnificina analitica,
as palavras são  como flores,
Incertas e sedutoras,
na transcendência do objeto
através da morte do sujeito.

Onde elas enfeitam nossa percepção 
não há lugar para representação. 

As palavras são inimigas do poder do verbo
na medida em que são  múltiplas,
ingovernaveis.

Fora da prisão do texto
ou da ilusão  do livro
elas jamais respeitam a realidade.

As palavras sempre estarão a margem da lei.







O OUTRO

Dentro de mim
um outro se insurge
contra meus conformismos,
contra a servidão voluntária 
que me foi ensinada
como prática cotidiana 
de incerta sobrevivência. 

Um outro precário, 
desabrigado do mundo,
resiste nas entranhas da consciência 
a miséria dos  dias
e do tempo presente.

Um outro que sonha a cocanha
e recusa o delírio da realidade,
que repudia o absurdo da lei e da ordem,
ou do progresso da humanidade.

Um outro que me transforma,
que nunca é o mesmo,
que renuncia ao bom senso e ao pragmatismo
em nome do intempestivo,
que desafia toda forma de poder,
todo ato de verdade.

Um dia este outro
há de tomar meu lugar
e somar entre os loucos.







quinta-feira, 2 de junho de 2022

A DISCRETA MORTE DA DONA FELICIDADE

Sem alarde,
a felicidade dobrou a esquina
e pouco depois morreu
de algum mal súbito.
Ninguém lamentou o fato.
Ninguém  morria de amores pela Dona felicidade.
Afinal, ela era famosa
por sua deslealdade 
com a realidade.