A realidade é apenas uma estranha fantasia
Que contra nossas duvidas sobrevive
Enquanto o mundo acontece.
Seja mais do que o dia a dia,
Faça do teu corpo a vontade
Que define teu pensamento.
A vida só existe
Como revalorização de todos os valores
Na vontade de poder
Do acontecer como corpo , pensamento
E vento
Através da sabedoria do martelo.
Este blog tem por objetivo a critica a razão moderna tal como configurada pela Iluminismo e pelas revoluções industrial e francesa. Ocupa-se, portanto, das tendências culturais e estéticas ditas “irracionalistas”, representadas pelo Romantismo, pelo Simbolismo, Decadentismo, pela filosofia de Nietzsche e Schopenhauer e, posteriormente, pelas vanguardas estéticas européias da segunda dezena do século XX e finalmente o HEAVY METAL...
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
NÃO ACREDITO EM ANO NOVO
Não acredito em ano novo.
Em novas recomeços de vida.
Sei apenas o desafio
Do simples dia seguinte.
Nunca serei perfeito.
Jamais serei satisfeito
E tenho apenas o tempo
Me esmagando na simplicidade
Do passar das coisas.
Não sou feito de rostos bonitos,
Fotos de ano novo
E muito menos de certeza de todas
as coisas.
Eu sou o dia,
O sol e o vento
Que nos define simples e
provisórios
Contra o absurdo do tempo.
Não
acredito em ano novo!
sábado, 26 de dezembro de 2015
ALÉM DA UTOPIA
Sinto a vida como um não lugar
da minha mínima existência,
como um precipício de
pensamentos,
Provisórios e incertos,
Como estratégias loucas de inventar a mim mesmo
Contra toda truculência dos
fatos.
Vivo do riso onírico
Dos meus sonhos de liberdade
Contra todas as imaginações do
mundo
E das misérias das falas
esperanças.
Sou em tudo minha individualidade
E vontade de um dia ser mais que
humano,
Ser gente de alguma melhor ideia de realidade
enquanto o mundo me consome.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
TESTEMUNHO NIILISTA
Me perdi demais dos meus sonhos.
E nem por isso apreendi a
realidade
Concreta e suja de todos os dias.
Aprendi o uivo,
As imaginações selvagens
Contra a sociedade.
Mas todos os meus atos
Dizem apenas a simplicidade
De ser profundo
No raso do dia a dia.
Talvez eu não seja
A melhor pessoa do mundo.
Mas não tenho a ilusão
De me tornar perfeito.
Tudo que faço é vislumbrar
As possibilidades estéticas
De nossa mera condição humana
Em sua total falta de sentido
E significado.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
O SELVAGEM
Não viverei entre os outros
Todas as ilusórias certezas do
mundo.
Serei livre de fantasias sobre
amor, amizade,
Felicidades e sucessos de vida.
Serei apenas a tempestade,
O uivo e o grito.
Estou entre os danados
Que vagam a noite
Em busca de sonhos e delírios.
Não me definam,
Não me olhem nos olhos.
Meu caminho é a liberdade
Que não cabe em seus dias.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
MANHÃ DELIRANTE
Em meio aos silêncios de uma manhã trágica
adivinhava sentimentos no rosto da rua,
administrava agonias
e reivindicava futuros
entre carências e ausências.
vivia de pequenas rotinas,
de provisórios ensaios
de ser outro
no eterno esboço do meu rosto.
Corria contra as vertigens e incertezas
que me engasgavam a consciência.
domingo, 20 de dezembro de 2015
ENQUANTO ME SENTO PARA ESCREVER
Enquanto me sento para escrever
Coisas loucas estão acontecendo
Lá fora,
Pessoas inventam realidades
insanas,
E tudo que tenho é a imaginação
Para não enlouquecer.
O poema quebra a casca do sonho,
Chora o mundo engasgado com o
grito
De tudo aquilo que poderia ser.
Enquanto me sento para escrever
A vida passa por mim em desatinos
Sem que eu possa perceber direito
Todo o absurdo que acontece a minha volta.
O SONO DE HELENA
Gostava de observa-la deitada,
Nua e provisória sobre a cama.
Gostava de admirar seu corpo,
Cada curva, cada traço.
O tempo parecia parar
Em seu sono,
Em sua voluptuosa preguiça.
Teu corpo era puro silêncio,
Concreta utopia do gozo
em meu olhar faminto.
Tudo que eu queria
Era fazer parte dos seus sonhos.
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
A FILOSOFIA DE RIR DE TUDO
Quanto mais interajo com os
outros, mas tenho certeza de que não sou a pior pessoa do mundo. Aliais, esse é
o problema. A gente nunca sabe o que esperar dos outros. Vivemos em um hospício
onde as pessoas se aceitam como funções, como instrumentos de certas certezas
de mundo....
È tudo muito triste. Mas já
aprendi a rir dessa merda toda.
Chega uma hora que a gente
valoriza mais um sorriso sincero e torto do que a certeza dos outros.
RECEITA DE AUTÊNTICIDADE
O que torna a vida limpa e
elegante é um pouco de trivialidade, superficialidade e cinismo. Esta é a
receita do sucesso. Mas eu não estava preocupado em ser bem sucedido. Tinha
problemas maiores. O primeiro deles era meu próprio eu desfeito no espaço dos
outros.
Perdemos muito tempo nos
posicionando em relação aos outros, quando tudo o que realmente importa é resolver nosso existencial estado de guerra
civil.
É preciso descobrir o quanto a nossa
própria vida é suja, onde estão os nossos limites. Depois disso a gente
dispensa o inferno dos outros, aprende a viver no abrigo natural de nosso próprio rosto a margem das
multidões.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
A CIDADE E OS TELHADOS
Os telhados sempre dizem uma cidade
Melhor do que suas ruas.
Mas somos pequenos demais para
observa-los.
Ou a cidade é maior do que qualquer um de nós.
Nem nos enxerga em suas urgências
de vidro e concreto.
A cidade não tem alma.
É apenas um amontoado de gente
fazendo coisas
Ou se escondendo em apartamentos
e casas.
Tudo que sei é que queria estar
Em qualquer outra parte do mundo
Sem ter nenhuma janela para me
dizer a rua.
Talvez fosse até mais interessante
habitar um telhado
Bem acima da multidão .
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
INTIMIDADE
Intimidade era você em meu pau
E eu em tua boceta
Explorando materialmente
Sem o menor pudor
Toda a verdade que somos.
Sexo sempre dizia mais que um
coito,
Era um ato radical de subjetividade
Onde nos desnudávamos absolutamente
Um para o outro.
Sexo nunca nos pareceu sujo.
Pelo contrário.
Era quando nos sentíamos mais
limpos e livres.
A cama nos irmanava de uma forma
mais intensa
Do que qualquer diálogo.
domingo, 6 de dezembro de 2015
O CORAÇÃO DESVELADO
É
fato que a vontade sucumbe ao desejo.
Somos escravos da necessidade,
Do irracional impulso para o
imponderável,
Para o não razoável.
Nenhuma razão nos inspira
No mais intimo de nossas
entranhas.
Somos bestas que se perderam de sua própria animalidade.
Fomos desfigurados por nossa
condição humana.
Mas mesmo assim, não superamos o
desejo
Como essência de nossos atos e
pensamentos
Mais profundos.
Por tudo isso estamos condenados
A viver de pequenas angustias e
dissabores
Em constante luta contra nós
mesmos.
sábado, 5 de dezembro de 2015
SOBRE O MUNDO ATUAL
Faz alguns anos aprendi a não
viver de certezas,
A não respirar ideias perfeitas
Nem cultivar vaidades
Contra o absurdo da existência.
Aprendi a viver de mortes
periódicas
E ocasos de razão provisória.
Convivo serenamente com meus
vazios,
Com minhas angustias e silêncios
de vida.
Fui reduzido ao desafio da mera
sobrevivência diária
Em um mundo que já não tem
ouvidos,
No qual muito pouco vale a pena.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
MEU NOME É LÚCIFER
Dentro de mim mora um demônio
Que acende a chama da vida
A cada dia em que desperto
Sem acreditar em nada,
Desprezando todas as antigas verdades,
Toda tradição de imbecilidade
Que ainda norteia a consciência humana.
Em meu peito bate a duvida e o incerto
No correr do meu sangue
contra toda certeza.
Eu sinto o vazio e o vento
Que arrombam as portas do medo.
Eu
sou Lúcifer, caído e libertado.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
SUPORTE O DIA SEGUINTE
Daqui a pouco o sol nascerá novamente
E faremos de conta que a vida pode ser simples.
Iremos habitar nossos moinhos de vento
E reinventar, mais uma vez este mundo
Que ainda não deu certo.
A vida é isso.
Não se apoquente.
Siga em frente.
Procure não se afundar em ansiedades
Nem tente mais do que lhe parece possível.
As utopias estão mortas
E a realidade já não faz mais sentido.
Dance sobre o cadáver da manhã.
Sorria ao sol por estar vivo.
Não há nenhuma outra solução.
Suporte o dia seguinte...
domingo, 29 de novembro de 2015
AOS POSSESSOS
Acautelai-vos diante da
realidade.
Ela é um monstro manso que te
devora.
Invoca contra ela teu mais intimo demônio.
Pois só ele há de te inspirar
Contra os erros que andam soltos
Nos hábitos e nas bocas dos bem
sucedidos.
Escava tua miséria e resgata o
ouro de teus uivos.
Imponha-se como maldito.
Nenhuma lei, nenhuma ordem,
Te fará escravo.
Dançaras nu sobre o olhar da lua
Até que a madrugada se consuma
E acenda em tuas entranhas uma
misteriosa chama.
sábado, 28 de novembro de 2015
LOST
Não me lembro de quando fiz uma
refeição decente pela última vez.
Também não me lembro de onde
estou vindo e muito menos para onde estou indo.
Só sei que a rua não acaba. A
cada passo ela parece crescer um pouco entre tantas janelas e portas que não
tiram os olhos de mim.
É tudo diferente agora.... Posso
sentir o tempo. Sou invadido por aquela sensação de vitalidade de antigamente.
Sou novamente uma criança. Preciso reencontrar todos... Sei que voltei para aqueles bons tempos de infância. Não
estou mais aqui e agora.
A rua tenta me dizer o contrário.
Preciso sair dela. Tenho que continuar andando.
As pessoas pensam e falam de mais
sobre a vida e as coisas. Mas elas são o problema. Acreditam demais no fato de
que são quem acham que são. Mas nenhuma
delas é realmente alguém.
As pessoas não cabem no mundo. O
mundo as transforma nessas coisas patéticas que andam de um lado para o outro
fazendo coisas sem entender direito porquê.
Estava com saudades de casa, do
abrigo dos rostos, da casa arrumada, da boa comida simples, do cachorro no
quintal. Eu estava morrendo de vontade de voltar para o meu lugar. De ser eu
novamente. A rua vai acabar. Só preciso continuar.
Nos últimos tempos vivi em
lugares de pouca realidade onde tudo era insípido e estéril, onde eu não era
visto e tudo estava arruinado.
Mas vou vencer a rua e voltar ao
que eu era. Estou muito perto disso.
Logo estarei novamente lendo
quadrinhos enquanto o bolo de banana aça no forno e aguardo um episódio de seriado começar na
TV. Um pouco de limonada gelada ia cair
bem agora...
Preciso vencer logo a rua.
Talvez tudo isso seja um pesadelo
e eu acorde logo. Ou talvez o abrigo de casa seja apenas a memória de um sonho
distante.
O que sobra de mim é muito pouco
para inventar saídas.
Todos aqueles que eu amava estão
mortos. Então só me resta morrer também. Já não me cabe fazer parte da comédia
humana. Daqui para frente o passado será sempre mais real do que o presente.
Botem fogo nos travesseiros.
Levem o onírico para as ruas. Dancem em praça pública e provem o transe dos
danados! Não há outra escolha.
Abandonem as ilusões imbecis de
felicidade. Rompam o torpor dos mortos vivos.
Desde o início estamos todos
mortos. A morte é a única estética possível.
Os jovens já não são mais jovens.
Apenas possuem mais tempo e mais recursos do que eu.
Sangro na cidade mutilada como um
vidente.
A rua não acaba. ...
Ouço a musica de mim enquanto os
passos findam.
Daqui a pouco será apenas a rua e
suas portas e janelas que a tudo espreitam.
Vou dormir e destruir de vez a
consciência. Afundar no abismo do silêncio.
Mas a rua não acaba...
Sigo adiante.
A POESIA BEAT E A FUNÇÃO SOCIAL DO POETA
Uma das características mais
marcantes da poesia Beat foi o resgate da palavra falada e cantada, a
valorização do encontro entre o poeta e a plateia através de espetáculos
grupais que traduziam a necessidade de tal poesia transcender a forma livro, a palavra
prisioneira da folha de papel. Livre do livro, os poemas se tornam uma coisa
viva, uma entidade que transcende a própria palavra na mobilização humana em
torno do espetáculo da poesia.
Allen Ginsberg é certamente a
estrela maior de tal fórmula poética. Seu poema
O UIVO ( Howl) é o equivalente da prosa de Kerouac em On the Road. E foi
também ele o responsável pela construção de uma ponte entre a literatura beat dos anos 50 e a contra
cultura dos anos 60 tantos nos Estados Unidos quanto na Europa Ocidental. Ele
esteve presente em marchas de protesto, festivais de musica, etc.
Sua poesia, entretanto, automática
e apocalíptica, guarda em seu ritmo o sabor da improvisação do jazz, os ritmos
da respiração e do próprio corpo em movimento, mais do que a influência dadaísta
e surrealista.
Essencialmente oral a poesia beat
busca resgatar a função social do poeta, sua capacidade de compartilhar
experiências e, em fins dos anos 50 e 60, nos Estados Unidos e Europa, isso
significava mudança e febre juvenil. Representava a generosa aposta na
reinvenção cotidiana da vida no além dos lugares comuns da sociedade
estabelecida e dos comportamentos pré moldados pela tradição e pelo poder.
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
ERROS
Não tenho a pretensão de ser
perfeito ou delicado. Sei que cometerei muitos erros, tal como todos a minha
volta. Na verdade nos relacionaremos através da dialética de nossos erros em
meio ao fluxo de equívocos coletivos que sustentam o acontecer social.
De todos os modos estamos desde o
princípio condenados ao desentendimento, ao esvaziamento de nossas melhores
intenções. Longe de mim esperar que de algum modo isso seja diferente.
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
A METAMORFOSE DE KAFKA E A IMPLOSÃO DA INDIVIDUALIDADE
O impasse entre o eu e o mundo, o
dissolver-se na persona social, ou a desconstrução do próprio eu, é tudo aquilo
que ainda pode nos revelar como indivíduos ...
Vivemos de auto ilusões, de
consensuais mentiras cotidianas e
funcionais.
“... quando nesse momento alguma coisa, atirada de leve, voou bem ao
seu lado e rolou diante dele. Era uma maça; a segunda passou voando logo em
seguida por cima dele. Gregor ficou paralisado de susto; continuar correndo era
inútil, pois o pai tinha decidido bombardeá-lo. Da fruteira em cima do bufê,
ele havia enchido os bolsos de maçãs e, por enquanto, sem mirar direito, as
atirava uma a uma. As pequenas maçãs vermelhas rolavam como que eletrizadas
pelo chão e batiam umas nas outras. Uma maçã atirada sem força raspou as costas
de Gregor, mas escorregou sem causar danos. Uma que logo se seguiu, pelo
contrário, literalmente penetrou nas costas dele. Gregor quis continuar se
arrastando, como se a dor, surpreendente e inacreditável, pudesse passar com a
mudança de lugar; mas ele se sentia como se estivesse pregado no chão e esticou
o corpo numa total confusão de todos os sentidos...”
KAFKA in A METAMORFOSE
SOBRE A METAMORFOSE DE KAFKA
A METAMORFOSE....
“Não é necessário sair de casa.
Permaneça em sua mesa e ouça. Não apenas ouça, mas espere. Não apenas espere,
mas fique sozinho em silêncio. Então o mundo se apresentará desmascarado. Em
êxtase, se dobrará sobre os seus pés."
KAFKA
O MUNDO É TÃO FRÁGIL QUANTO UMA FOLHA DE PAPEL.
NELE CABE O TEXTO DA VIDA
E TODO O ILEGÍVEL QUE RESIDE
NO FUNDO DE CADA DISCURSO ,
DE CADA PREMISSA GRAMATICAL...
sábado, 21 de novembro de 2015
A LEI DA ATRAÇÃO
Não foi nada daquilo que eu esperava.
Meu pau entre tuas pernas abertas
E você ali submissa e desfalecida
Gemendo e dizendo coisas sem nexo.
Me fazia mal gostar daquilo,
Não conseguir parar.
Sabia que aquilo destruiria
Todas as nossas expectativas.
Nos condenávamos
A constituir mais um casal
medíocre.
Seriamos só mais um caso mal resolvido
De tesão impensado.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
SOBRE O ILEGÍVEL
O jogo das palavras,
o dizer impreciso das emoções
através das curvas do pensamento,
não são suficientes,
não bastam a vontade
de dar forma a este não sentido
que polui todas as coisas que sinto.
O ilegível contamina tudo,
silencia as coisas
e a realidade, de repente,
quase não existe.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
SOMOS IRRACIONAIS
A virtude do irracional
é a transcendência do bem e do mal,
a virtude dos vícios elevada
a condição de conhecimento vivo
dos mais profundos abismos
de nossa condição humana.
Iludem-se aqueles que julgam o humano
algo que se define pela razão
ou por qualquer coisa que seja
portadora de um sentido,
de um significado.
O ser humano é apenas
um arranjo de moléculas,
uma situação provisória da matéria.
Sua condição é simplesmente irracional.
domingo, 15 de novembro de 2015
ABRIGADO NA TEMPESTADE
Não sei mais o que ainda pode ser
dito de “positivo” sobre esta estranha coisa chamada vida. Ela nunca teve o
menor sentido, nunca nos ofereceu
qualquer certeza quanto ao que somos e nunca soubemos direito o que fazer com
ela. Apenas nos tornamos mais complexos na arte da sobrevivência e vivemos em
sociedade. Não que isso seja uma solução.
A sombra dos meus desejos, me
desfaço no deserto dos meus degredos. Não sou bicho, não sou humano. Ainda não
vivi meu segredo, o melhor de minha consciência de mundo. Não passo de um
esboço, sempre provisório e perecível de mim mesmo.
Aos que tem respostas, aos que
dançam diante do espelho, desejo boa sorte até o abraço desconstrucionista da
morte.
Já não espero companhias. Estou
farto de ter companhias e ver o mundo através dos olhos dos outros. Não serei
ofuscado pelas certezas alheiras.
Deixem-me provar o vento, o
relâmpago e a tempestade contra o conforto de todas as ordens.
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
TORNE-SE UM INDIVÍDUO
A compulsória insatisfação pessoal
dos indivíduos reduzidos à condição de consumidores é o que corrói sua vontade
como produtores. É o que cria o vazio,
aquilo que nos reduz a uma massa amorfa de indivíduos sucumbidos diante das
mais diversificadas formas de miséria psicológica.
A sociedade atual nos reduz a uma
multidão sem rosto. Por isso cada um deve arrancar dela, a seu próprio modo,
seu mínimo quinhão de individualidade e autenticidade. Mas isso se dá
cotidianamente através de um
questionamento, desconstrução e reaprendizado de si mesmo a margem de tudo
aquilo que até agora nos ensinaram a ser.
Somos produtores, criadores e
responsáveis por nós mesmos.
Somos o além do humano...
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
ESCUTE MEU CETICISMO
Sempre falta alguma coisa em nossas vidas banais.
Você pode preencher este sentimento
Com tudo aquilo que pensa ser mais razoável.
Mas sempre vai faltar
alguma coisa.
Viver é um escândalo,
Um absurdo,
Que exige muita criatividade e determinação
Para aceitar que o mais profundo
De toda realidade
Não passa apenas de uma confortável ilusão.
Siga em frente, pense,
E se necessário grite.
Tudo que você percebe lá fora
Se torna parte de si mesmo.
Então cuidado com aquilo que você espia
E te inspira.
O mundo não cabe na sua cabeça.
Mas sua cabeça cabe no mundo.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
A PRIVACIDADE DOS PENSAMENTOS
Quem ainda deseja experimentar a
privacidade de seus próprios pensamentos deve, antes de mais nada, aprender a fugir
de si mesmo, procurar o refúgio de algum silêncio e despir-se de tudo aquilo
que até então viveu e aprendeu
Pois os pensamentos não se misturam
a vontades e desejos, se contrapõe as nossas auto representações mais intimas e
tem por vocação o abstrato de nossa essencial incerteza das coisas.
A intimidade do pensamento é um
tanto quanto absurda, pois sempre pressupõe o insensato, o que não pode ser
domesticado por tudo aquilo que nos limita a realidade. A intimidade do
pensamento é a loucura. È quando tudo aquilo que somos e não sabemos ganha voz,
afogando o ego e a razão no vasto oceano das fantasias selvagens através das
quais o mundo se torna ilegível.
A privacidade do pensamento é
vivida apenas quando as palavras deixam de fazer sentido, quando o corpo pensa
e se revela como sendo a nossa própria consciência das coisas através da
gramática do imagético, do nonsense e do caos mais criativo.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
SUSTO FILOSÓFICO
Não era uma questão de bom senso,
nem mesmo de sentimentos,
convicções,
imaginações ou ilusões.
Era apenas aquele susto gratuito
com a realidade,
aquele desespero manso,
que as vezes nos surpreende diante
dos fatos.
Era apenas o absurdo batendo
novamente
a porta de minhas mínimas convicções.
ável
ou boas
notícias.
As coisas são
apenas isso que você esta vendo e sentindo,
um profundo e
constante arruinar-se absoluto através do tempo e do espaço.
sábado, 7 de novembro de 2015
O ALÉM DO HUMANO
Precisamos acordar do sonho da sociedade,
Enterrar a fantasia moderna do contrato social,
Redescobrir a consciência do mundo
Como verdade do corpo e das sensações imediatas de fugaz
prazer.
Precisamos dançar em nossos pensamentos,
Embriagar a razão.
Precisamos reparar os erros da falecida e medieval ideia de
cristandade.
Precisamos regar as plantas do jardim de casa,
Amar os bichos e sonhar com as estrelas.
Precisamos de qualquer coisa nova
Que não seja o futuro da humanidade.
Precisamos jogar ao
chão todo passado possível,
Toda verdade,
Para gritar que somos apenas relâmpagos
Em meio a tempestade da vida da espécie.
Precisamos acordar de Ser....
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
NOTA SOBRE A IRREALIDADE DE TODOS NÓS
Nenhuma verdade é maior do que o nosso falso sentimento de
que uma realidade existe, e que é possível viver da mentira de ego que somos em
meio ao caos de cada um de nós.
Minhas imaginações não cabem em minhas palavras, são
verdades que através dos tos transcendem a s gramáticas e o dizer absurdo das
coisas.
Mas, infelizmente, as pessoas outras são escravas da
aventura do real que não nos define....
O DIABO DENTRO DO QUADRO
Vera Aletéia era uma jovem senhora de quarenta e
poucos anos solteirona e sem grandes expectativas quanto ao futuro, era
funcionária pública em uma repartição
qualquer e ganhava um bom dinheiro como pintora . Tinha uma boa vida, morava em
barro nobre e pouco se importava com a solidão. Muito pelo contrário. Vivia muito bem com seus sete gatos e
detestava de lidar com pessoas. Como vivia dizendo, pessoas são perda de tempo.
Estão sempre com problemas e achando que você deve estar sempre a concordar com
elas.
Sua rotina era simples: trabalho
casa, casa trabalho. Aos fins de semana um pouco de vinho e boa musica de
madrugada entre as quatro paredes do seu apartamento. Era quando se permitia
render-se a fantasia e produzia a maioria de seus quadros.
Essa loura que, na juventude era
comparada a musas do cinema e despertava o desejo de muitos homens bem
colocados que sempre fez questão de desprezar sem a mínima delicadeza, no fundo se orgulhava
disso. A solidão , não ter filhos e nem ser mãe de família tinha sido uma
escolha sua. E nem por um instante se arrependia disto. Filhos? Para quer
filhos?! Tinha sua própria vida e isso era mais do que precisava. Filhos são
pura dor de cabeça e desassossego. Coisa que as pessoas mais inteligentes
evitam.
A concretização de sua própria
vida era tudo que lhe importava. Via como uma obrigação consigo mesma que
deveria ser estendida a todas as mulheres que prezam acima de tudo seu bem
estar pessoal e pouco se importam com as exigências do mundo ou da sociedade.
Sabia que nenhum homem lhe
aceitaria por muito tempo sendo cheia de opiniões do jeito que era. Os homens
não vivem se mirando em espelhos, mas na pratica são mais vaidosos do que as
mulheres. A diferença é que sua vaidade
passa pela ditadura de suas vontades e caprichos mesquinhos. Geralmente fazem
das mulheres no plano privado as principais vítimas de seus narcisismo.
Era uma bela manhã de domingo e
havia acordado com o bom sentimento despertado por um quadro que terminara na
madrugada anterior. Era a alegórica imagem de uma mulher nua sobre um unicórnio
negro de olhos vermelhos em meio a um infinito de cores caóticas e vivas . Ao
contrário das interpretações mais previsíveis, não queria dizer com aquela
imagem qualquer coisa sobre liberdade. Mas apenas a indiferença de si mesma em
relação as pessoas e ao mundo, a própria realidade. Tratava-se de um tributo a
fantasia e ao intimismo como regra fundamental da vida. Isso era bem a sua
cara.
Bebeu um pouco de vinho para
celebrar a pintura. Uma taça levou a outra taça e em pouco tempo foram duas
garrafas. Já quase adormecia na cama quando ouviu uma voz dizendo:
-EI! Ei!!!! Você!!!!!Olhou em
volta assustada e não viu ninguém. Foi
quando percebeu para sua surpresa e perplexidade que a voz saia do referido
quadro que repousava aos pés da cama como precioso objeto de contemplação.
-Prezada Vera Aletéia que me
ofertou com a vida simplória de uma tela que só existe aos olhos dos outros.
Por favor me leve daqui! Quero estar em exposição! Ser vista por muitos olhos.
Vera não acreditava naquilo.
Muito menos no desejo da voz que contrariava tudo aquilo que julgava definir
sua arte. Desconsiderando o gritante absurdo do fato começou a dialogar com a
mulher do quadro:
- Mas que
merda você esta dizendo? Pinto para o prazer dos meus próprios olhos. Para
minha própria degustação.
-Sei que sou
sua criatura. E por isso mesmo tenho minhas próprias vontades. Só lhe peço que
as obedeça.
-Como pode a
criatura contrariar o criador?! Eu sei mais sua vontade do que você. Você não
passa de uma expressão de sentimentos que guardo por dentro. E esse seu pedido
não tem cabimento.
- Sei mais
sobre o cabimento de minhas palavras do que você as suas. Sou tão produto de
suas vontades que realizo sua mais profunda vaidade. Mesmo que inconfessa.
Exijo olhares.
-Você não
exige nada!
-Eu exijo
tudo! Pois sou sua imagem e semelhança e personifico você como seu outro mais
oculto.
-Meu outro
mais oculto é falsidade e miragem. Você é apenas o que eu queria dizer.
-E quem disse
que você tem algum controle sobre aquilo que diz Aleteia? Seu izer é franco mas
não comporta tudo aquilo que você é e ignora.
- Mas que
loucura é essa?!!!!!!- Berrou Vera Aletéia ainda deitada com os olhos sobre o quadro.
-Lhe direi a
verdade. Você não está conversando com um quadro. Eu sou seu próprio silêncio.
E o silêncio é o demônio que te habita nesta gaiola dourada a qual se reduziu
sua vida. Não digo outra coisa além da verdade de que nada em sua existência é
sinônimo de conforto. Que não basta afirmar-se contra o mundo. Mesmo em seu
isolamento você ainda é parte e produto dele na mesma lógica aqui suposta de um
embate severo entre criador e criatura. Eu sou seu diabo....
-Isso tudo é
absurdo! Nem por um segundo tomo a sério suas palavras! Nem acho que isso
existe. Estou sonhando.
-Toda verdade
vivida é sempre uma fantasia unilateral e estúpida. Mas se você dentro do sonho
o percebe como um sonho, simplesmente acorda da fantasia. Então lhe pergunto:
Você acordou e voltou ao vazio da sua realidade vivida?
Vera Aleteia
ficou em silêncio por alguns minutos esperando acordar. Mas isso não
aconteceu... Depois voltou a ofensiva contra aquele aparente delírio:
-Devo estar
enlouquecendo. Mas não farei o jogo da minha loucura. Não continuarei a falar
com você.
- Que assim o
seja. Continuarei falando dentro da sua cabeça. Sou seu demônio mais intimo e ,
consequentemente, parte de você.
- Você não sou
eu.
-Eu não sou o
que você pensa sobre você. Mas estou dentro de tudo aquilo que você é, como
aquilo que escapa a tudo o que você se tornou e queria ser....
-Você não é
nada disso.
-Nada é uma
palavra chave neste dialogo. Por muito tempo você deixou de enfrentar o mundo
achando que poderia ser você fugindo dele. Eu sou você dizendo que você só pode
ser você enfrentando o mundo. Se o mundo não sabe dos seus quadros eles não
existem. Você está em dívida com você.
-Mas eu não
preciso da opinião do mundo sobre a minha arte.
-Mas ela só
pode existir de verdade quando existe de algum modo nos outros. Ou a arte deixa
de ser arte.
_-Isso não faz
sentido. A arte é concretamente os quadros que faço e nos quais me reconheço,
onde reconheço o meu mundo.
-A arte é um disfarce,
uma muleta para você suportar sua falta de mundo. Ela só existe quando você a
transforma em um meio de enfrenta-lo. Sou seu demônio e o fundamento da sua
arte.
- Você não é
nada.
-Eu sou a
goteira pingando e a garrafa vazia de vinho. Eu sou tudo aquilo que você ignora
como verdade viva de si mesma.
-Suma
daqui!!!!!! Eu não te suporto!
-Eu sei....
Esta
imaginária prosa se desdobrou por mais algumas horas até Vera Aletéia entrar em
estado de absoluto desespero. Ás quatro horas da tarde levantou da cama e pulou
pela janela do apartamento dando cabo de sua aparentemente feliz existência.
Sua irmã,
professora de história da arte , organizou uma exposição de seus quadros em um
centro cultural alternativo. A partir de então ela se tornou uma celebridade
nos meios acadêmicos. As notícias de jornais sobre a misteriosa morte da
pintora solitária foi objeto de especulação nas redes sociais e , aos poucos,
detalhes escabrosos de sua vida privada
se fizeram públicos garantindo-lhe uma fama
nunca antes vista. Talvez, meus
caros leitores, o diabo do quadro tivesse certa razão sobre os abismos que
definiam a relação entre a criadora e a criatura daquela imagem alegórica.
Moral da
história: Escute com sabedoria suas fantasias de forma racional para que elas
não te destruam de forma irracional...
A CORPOREIDADE DOS SENTIMENTOS
A corporeidade dos sentimentos
transcende os pensamentos,
é emoção fisicamente manifesta,
transmutada em movimento intimo
e concreto.
O corpo desobedece certezas
e desafia pensamentos,
deixa-se inspirar pelo desejo
que nos transcende e usa
na realização de si mesmo.
A NATURALIDADE DO SEXO
Não precisávamos de muitas palavras,
do dizer vazio e hipócrita das cerimônias.
Alguns olhares bastavam
para desfazer o interdito.
Tudo entre nós sempre foi simplesmente objetivo.
Nos livramos das roupas e nos agarramos
na alternância de beijos e lambidas.
Nossos corpos gritavam
quase sem controle
na febre da intimidade.
O gozo era nossa única medida.
MEUS DESACONTECIMENTOS
Ainda me lembro do tempo
em que nada foi possível,
de todos os bons desacontecimentos
da minha breve existência.
Tanta, mas tanta coisa não me foi possível
que não posso enumera-las aqui.
Merecia ser escrita
uma vasta biografia sobre o que no meus destino
nunca foi,
Nunca será.
Pois são estes interditos
a prima matéria dos meus dias vividos.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
À SOMBRA DAS JULIETAS
Mais um dia começava na vida
vazia de Mirna do Mirar Triste. Abrira os olhos e ficou mirando o teto
retardando o ato mecânico de se levantar. Afinal, o que poderia esperar daquele
dia?
Já havia se passado uma semana do
suicídio de Aurora e Alice. Haviam sido encontradas abraçadas sobre a cama, tinham as feições serenas e
pareciam apenas compartilhar um bom sonho. Mas a verdade é que haviam ingerido
juntas algum tipo de veneno para dar cabo de tudo, fugir das complicações que
lhe traria o amor proibido que as uniu
por capricho do acaso.
No prédio não se falava de outra
coisa. Todos os moradores estavam indignados com o acontecido e solidários aos
pais de Alice que se perguntavam como aquilo podia ter acontecido. Aurora ficou
sendo a vilã da história aos olhos de todos. Acusavam-na de ter seduzido a
inocente Alice. Ninguém desconfiava que Mirna havia testemunhado em primeira
mão aquela história de amor de dois dias podendo acrescentar as fantasiosas
versões que se espalhavam um testemunho privilegiado dos acontecimentos. Mas
ela não via nenhum sentido em fazê-lo. Não mudaria nada.
O casal de gatos Caos e Melancolia miavam na beira da cama
exigindo sua cota de ração matinal. Diante de seus incessantes apelos Mirna
finalmente se levantou. Satisfez a vontade dos bichanos, tomou um banho e
depois se arrumou mecanicamente. Eram um pouco mais de onze horas. O sol já
estava a pino e seus raios invadiam a sala pela janela que havia dormido
aberta.
Alguém bateu na porta para a
surpresa de nossa ruiva. Não fazia ideia de quem poderia ser. Apenas Aurora
costumava fazê-lo e, agora que estava morta, julgava-se livre de visitas
inesperadas. Quando abriu a porta
deparou-se com uma jovem loura muito semelhante a Alice. Ela apresentou-se como Sophia, sua irmã mais
velha.
-Desculpa incomodar. Mas
precisava muito falar com você.- Foi se justificando a jovem.
- Tá legal. Entra ai.
Sophia vestia uma camiseta preta
estampada com a capa de Heaven and Hell do Black Sabbath. Entrou e tomou acento
no sofá vermelho. Mirna sentou-se ao seu lado. Já fazia ideia do assunto,
apesar de surpreendida pela novidade de que Alice possuía uma irmã. Lhe pareceu
apropriado começar a conversa.
-Imagino que tal como eu você
sabe de tudo...
-Sim. Minha irmã me contou o que
estava acontecendo. Eu só não sabia o que elas pretendiam fazer...
-Pois é. Eu também não...
-Bom... Eu também sou lésbica e
me sinto um pouco culpada pelo que aconteceu. Talvez minha irmã não tivesse
feito aquilo se eu não...
Mirna não lhe deixou terminar a
frase e antecipou a resposta com um tom de voz sereno e acolhedor:
-Não diga bobagem. O que
aconteceu não é culpa sua. De forma alguma... Elas se apaixonaram de uma hora
pra outra e não aguentaram o tranco. Infelizmente... Coisa de tesão. Por isso
não me deixo levar por essas coisas. A gente sempre se fode com isso.
-Não fale assim. Minha irmã me
falou sobre o que estava sentindo. Não foi de uma hora pra outra. Ela já se sentia atraída pela
quarentona já tinha algum tempo. Sempre que se encontravam no elevador ela
pensava em arrumar alguma desculpa para se aproximar...
Sabe. As pessoas todas pensam
como macho, que sexo é o que leva a paixão ou a gostar de alguém. Mas isso é
uma mentira. As pessoas gostam de acreditar nisso. Mas não é verdade.
- Para mim é tudo fisiológico-
Retrucou Mirna. Não estava gostando daquela conversa. Mas não tinha como fugir
dela. Caos e Melancolia já estavam por ali tentando ganhar alguma atenção
miando e roçando nos pés das duas.
- Acho que no fundo você sabe que
não é assim. Duvido que realmente pense como um marcho partriacal e capitalista
que reduz o amor a um comercio de tesão e atenção mutua.
-Mas, afinal, do que você esta
falando?
-Sou formada em sociologia....
-E eu não leio livros. Só tenho
tempo pra TV. Só pra te lembrar: Nós somos duas estranhas. Acabamos de nos
conhecer e eu ainda não sei porque você me procurou. Espero que não tenha sido
para falar sobre sexo.
-Desculpa! Eu só precisava
conversar com alguém sobre o que aconteceu... Minha irmã tinha falado de você.
Então, me pareceu uma boa ideia bater na sua porta. Vai ver que eu estava
errada.
-Não estou te mandando embora,
certo? Só acho que esse assunto é totalmente sem cabimento.
-sei que esse é o tipo de coisa sobre
a qual as pessoas não costumam falar. Elas preferem ignorar e tornar o assunto
invisível, assim como todo fato e realidade humana que diz respeito a ele. Não
acho isso legal. O que aconteceu a minha irmã e a sua amiga prova isso.
-Está bem. Continue. Vamos ver
até onde você vai chegar. Só acho que tudo isso é coisa da sua cabeça.
--Tudo bem se você prefere jogar
as regras do jogo e pensar como todo mundo estar condicionado a pensar. Mas
isso não dá certo para muita gente. As pessoas acham, por exemplo, que minha família
é pacata, tradicionalmente bem resolvida e feliz. Mas isso é uma mentira. Meu
pai é um neurótico religioso que quer controlar a vida de todo mundo, minha mãe
uma bipolar e a Alice não foi o primeiro caso de suicídio. Meu irmão mais velho
se matou depois que entrou para a faculdade e começou a ter brigas feias com
meu pai. Ele cismou de fazer filosofia. Mas meu pai achava que filosofia não
passa de um sinônimo para teologia e transformou a vida dele num inferno.
Chegou a um ponto em que ele não aguentou...
- Eu sinto muito. Queria poder
ajudar.
-Você já ajuda me escutando um
pouco. Mas, sem ironia, podia me ajudar mais se fosse do tipo que lesse livros.
Mirna sorriu com a resposta de
Sophia. A conversa foi ficando mais descontraída a partir dali. Melancolia pulou no colo da dona em uma
estratégia radical para conseguir um pouco de atenção. Caos não deixou barato e
fez o mesmo pulando no colo da visitante. A prosa prolongou-se por algumas horas.
Nas semanas que se seguiram as
visitas de Alice se tornaram frequentes. Falavam absolutamente sobre tudo e se
divertiam muito uma com a outra. Mirna não era de ter muitos amigos e se
orgulhava disso. Mas estava gostando da companhia de Sophia.
Não demorou muito para começarem
a fazer outras coisas juntas, como ir a exposições e alguns shows de rock.
Sophia escolhia as atividades e apresentava seu mundo particular a Mirna que se
sentia cada vez mais envolvida pelos interesses e questões da nova amiga.
Uma noite as duas chegaram tarde
e Sophia preferiu dormir no apartamento de Mirna sabendo que teria problemas em casa por voltar tão tarde. As duas dividiram umas
taças de vinho e, de repente, assim bem de repente, se enlaçaram em um beijo de
tirar o fôlego. Depois foram pra cama e deram asas a noite uma através da
outra.
No dia seguinte acordaram com
aquela ressaca moral, mas nem um pouco
surpresas com o que havia acontecido. Era impossível não lembrar de Alice e
Aurora. Agora eram julietas também. Mas não perderiam o rumo da situação como
aquelas duas imaturas.
Sophia falou pelo interfone com a
mãe e comunicou sua decisão de sair de casa. Provisoriamente moraria com Mirna.
A mãe ficou evidentemente chocada e preocupada em como expor o fato ao
marido. Para evitar conflitos e
baixarias as duas decidiram viajar as pressas.
Foram para a casa de uma antiga
colega de faculdade de Sophia passar algum tempo. Caos e Melancolia não
gostaram da ideia de viajar e deixar a zona de conforto de seu pequeno
território. Mas logo se adaptaram a casa de veraneio e seus jardins.
Mirnia e Sophia estavam agora em
outra cidade, conhecendo pessoas e saindo de seus lugares comuns enquanto se
descobriam como um casal.
Mas não era um final feliz. A
vida , afinal, não é feita de finais
felizes.
As coisas aconteciam de maneira
tão insólita e espontânea que era difícil dizer que rumos iriam tomar suas
vidas daqui para frente. Por enquanto tudo parecia um sonho. Mas é claro que a
realidade, quando se confunde com o sonho, é porque já não temos o mínimo controle
da situação e muito menos fazemos ideia do que realmente esta acontecendo.
Em um fim de tarde a beira mar as
duas abordaram o assunto:
-E agora? Qual o próximo passo?-
Indagou Mirna a companheira com o olhar mergulhado no mar.
-Vamos viver um dia de cada vez.
Não planejar muito, esperar pouco...
- As vezes acho que você esta me
ensinando as piores coisas do mundo.
-Que bom. Pois eu acho que você
esta gostando. Mas a liberdade pesa e as vezes até nos oprime quando ser livre
não é uma regra ou uma convenção.
-Eu sempre achei que éramos escravos
de nossas vidas. Talvez Aurora e Alice pensassem assim também.
-Mas agora você sabe que só somos
escravos de nossa liberdade. Ela é um vício. Falando nisso acho que é hora de
voltar aquele assunto do dia em que nos conhecemos: Você ainda acha que tudo é
fisiológico?
Mirna demorou um pouco para
responder. Não sabia direito o que dizer.
- Eu acho que tudo é possível.
Principalmente o improvável. Nós duas somos o improvável. Aquilo que não
costuma acontecer e, entretanto, depois que acontece parece banal.
-Enquanto isso, na casa da amiga
de Sophia, Caos e Melancolia faziam as unhas em um sofá que não era vermelho.
Ainda não haviam se habituado ao novo ambiente. Mas a curiosidade era mais
forte do que o medo. Destemidamente exploravam o novo espaço.
Alice era sempre lembrada através
de um de seus poemas de adolescência:
METAMORFOSES DE UMA BORBOLETA
Vivo tempos de mudanças internas
E reinvenções externas.
Já sou quase uma borboleta.
Mas não me basta o jardim.
Quero explorar o céu,
Ir além de mim mesma.
Talvez, quem sabe,
Até tocar o sol.
Nada me basta,
Nada me define.
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