quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A NOVA REALIDADE

A realidade já não é mais a mesma,
perdeu toda vaidade.
Dispensa o dizer oco sobre o sentido das coisas.

Ela agora anda por ai semi nua
De braços dados com a incerteza e com a fantasia.

Muitos não mais a conhecem
E lhe tomam como impostora.
Mas sim... é mesmo a realidade.
Ela apenas divorciou-se da verdade
Embriagou-se de subjetividades,
Até o limite da experiência.



ESPIRITO ABSOLUTO

Esta vontade que grita,
Que quer ser liberdade,
Que me contem
E transcende
É o próprio mundo
Como sujeito e objeto,
Como buscar impertinente
De mim mesmo
Exatamente onde não existo
Ou sou desconstruído.

Minha existência não passa de um grito...
ou de um mudo eco de mundo.

ENTRE EUS

Sou raso,
Fútil e insuportável.
Um passageiro indesejável de mim mesmo.

Sei que há em mim um outro
Para qual sou apenas uma sombra.
Ele quase não existe
Mas é mais verdadeiro,
Mas simples,
Do que este agônico dilema
Que sou eu mesmo
Fora daquele que intimamente observo,
Como ilusão e sonho,
Como incerteza de um eu atrevés do eu.

domingo, 21 de janeiro de 2018

FUGA EPISTEMOLÓGICA

Não existe fronteira entre o ficcional e o não ficcional. Toda gramática do mundo é simulacro no artifício do dizer as coisas como pensamento. As práticas discursivas procuram a margem do significado, o silêncio dos ordenamentos discursivos que controlam e normatizam o dizer legítimo. Escapamos a ilusão da verdade e a miragem do humano.

FUGA

É preciso fugir ao controle,
Escapar ao saber, ao poder,
A verdade e a norma.
É preciso escrever o não sentido,
Inventar o desvio
Para que a vida, afinal,
Aconteça.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

NÃO SER

Nunca serei aquele que você viu na foto.
Nunca serei como naquele instante,
Ou só aquele momento.
Nunca serei nem mesmo
Como pareço agora.
Eu não posso ser
Porque estou sempre em movimento
E a mudança é um estado de não ser.



EXPERIÊNCIA DADAÍSTA

A casa leva a janela que dá para o jardim.
Mas o corredor é um poço.
Estou em todos os cômodos
Ao mesmo tempo
E não consigo ir a lugar algum.

A janela me espera de portas abertas.
Mas é muito tarde para o céu sob nossos pés.
Amanhã não haverá estrelas.



HUMANISMO

Cometi o erro de ser demasiadamente humano,
De viver civilizadamente,
Cultivar a polidez,
Em um mundo de bestializados.

Afinal, onde impera a hipocrisia
A moral da lei é a mentira.

Assim, fui tratado por todos
Como uma caricatura,
Quase uma aberração.

Vivemos em uma sociedade
Que cotidianamente estranha a humanidade,
Que vive da falsidade de seus humanismos

Contra todo ideal.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

AS INTRIGAS DA VERDADE

A filosofia ocidental inventou a verdade, esta alucinação do espirito embriagado de mundo, faminto de transcendência e carente de sentido, abismado com o paradoxo da própria existência.


A verdade, entretanto, não simplificou a aventura de codificar o mundo, apenas estabeleceu a discórdia como regra da vida do espirito.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

ANIMALIDADE


SOMBRA

Ainda que de mim mesmo me descuide,
Vivendo onde não me vejo,
Mantenho dentro de mim
Uma existência que não soube o mundo.
Ficou perdida em meu eu profundo,
Apenas pressentida em noites escuras.
Ela é imprevista e incerta como o vento

E me leva a ser onde não existo.

CONSERVADORISMO EPISTEMOLÓGICO

Esgotamos o infinito da verdade.
Já não nos entendemos bem com a realidade.
Mas nossos discursos ainda repetem o passado.
Somos escravos da norma,
Conformados sedentários do espirito,
Que se recusam a invenção de abismos e vertigens,
Para que se consolide o futuro de nossas antiguidades.


quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O FUTURO DE NOSSA ILUSÃO


A evasão é o futuro de nossa cultura. Em algum momento superaremos de vez a ilusão da realidade e nos converteremos a experiência de  simulacros vitais. Afinal, o que  é o virtual a não ser o prenuncio de algo mais radical: a era da imaginação!

Sim! No futuro seremos menos que humanos e mais do que deuses. Seremos um inteiramente outro de nos mesmos. Pois a realidade será uma antiguidade diante do antirrealismo como versão mais que perfeita do possível da consciência....




segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

OS DEFEITOS DOS MEUS ERROS


Posso admitir meus erros.
Mas, muito dificilmente,
Serei capaz de superar meus defeitos.

Minha existência
É uma boa coleção de equívocos,
Frustrações e acidentes.
E sou do tipo
Que guarda todos os fracassos.
Seu peso quase me imobiliza
E impede de continuar
Enquanto sigo em frente.

Mas nem sempre meus erros
Se reconhecem em meus defeitos.

Muitas vezes tropeçam em qualidades.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018


ANDARILHO E LABIRINTO

Ainda que eu siga sozinho pelas ruas desertas,
Será sempre eu e um outro de mim mesmo
Adivinhando o silêncio,
Rompendo o certo de qualquer destino
Através da recusa de todos os caminhos.
Busco algo inatingível,
Tenho uma meta impossível.
Meus passos levam ao vazio
E nele me descubro inteiro e pleno
No meu intimo labirinto.



A IMANÊNCIA E A DANÇA DO PENSAMENTO

O mergulho na imanência deve superar a paixão pela razão, até o ponto em que o pensamento diz o corpo e o efêmero, o inconstante, como fundamento do exercício de si mesmo, através das pequenas coisas cotidianas. Assim, torna-se claro o quanto o pensamento não passa de um jogo que constantemente nos surpreende outro. A própria realidade é percebida como uma estética, uma sensibilidade e estratégia de subjetivização através da qual dançamos nossa própria existência. Pensar é uma dança...



terça-feira, 2 de janeiro de 2018

PROSA PÓS MODERNA

Inventaria mundos
Caso fosse a palavra
Escrava do pensamento
E não o pensamento
Prisioneiro de nossas palavras.

Já não há totalidades desveladas
Por qualquer ideal de razão,
Nenhuma moral universal
Ou ética de Estado.

Nenhuma meta narrativa
Castra nossas praticas discursivas.

O ser da linguagem apenas nos lança
Ao desafio de inventar subjetividades



ILUSÕES