FUGIR A REALIDADE

Fugir a realidade
É o melhor caminho
Para transformar o mundo.

A realidade não da conta da vida,
Não  cria nada
Além de finitude que nos consome.

A realidade é  a regra cega
Que inventa o deserto.

Estamos fartos da realidade,
De seu pragmatismo
E sua falta de alma!

BRUXARIA PÓS HISTÓRICA

Hoje, o presente avança  na contramão  do futuro
E o passado faz de nós  sobreviventes
Em um deserto que cresce sem tempo
No artificialismo dos museus e telejornais.

A história jaz morta e apodrece
Na memória domesticada pelos especialistas.

O mito desfaz as ilusões
Da razão  iluminista.
Kant e Hegel agonizam no aquário
Onde todos os peixes são  pós  estruturalistas.

É  tempo de bruxaria!

PROFECIAS DA NOVA TERRA

Adentramos  a bruma do pós histórico,

Do momento incerto

Do desaparecimento do último homem.

A razão se precipita das alturas da ilusão da norma.

A natureza desvela-se em estado puro e selvagem.

Mas permaneceremos sonâmbulos

Até que a morte conheça os abismos da vida.

Acordam flores de encanto e delírio

 com os corpos que  amanhecem entranhados na terra e no caos,

Como qualquer indiferente objeto cósmico e concreto.

Daqui para frente,

O sonho esclarecerá a vigília,

Enquanto dançarmos o cotidiano

Na roda viva do tempo.

ANGUSTIA CÓSMICA

Cuspia algumas palavras cruas.

Tentando dizer o que sentia.

Mas o sentimento escapava ao dizer.

Não se deixava apreender,

Prender, pela inteligível de qualquer frase.

Havia algo mais do que  realidade

Naquilo que queria expressar,

Comunicar....

Algo que estava além de toda representação.

O sentir dizia um outro de si

que  sabia a inconsciente dimensão

De sua condição de vivente

Disperso no acontecer do mundo.

TERRA PLANA

Na terra plana do pensamento,

Todos tem lados, ódios,

E ressentimentos.

Cada um vive um canto.

Não existe centro,

Liberdade ou movimento.

A verdade ofusca o sol

E fogueiras queimam consciências.

A realidade é uma grande piada

na força das convicções.

MISTICA EMBRIAGUEZ

Desnudando o mundo
Entre o quarto e a sala,
Provei a alma da vida,
Soube a sombra do universo,
Afogado em uma taça de vinho.

Sim. Isso é possível,
Quando o pensamento traduz o infinito
Através do embaralhamento dos sentidos,
Esvaziando a gente de si mesmo,
Mergulhando a existência em um abismo.

A SOMBRA DA ETERNIDADE

Reinventaremos o presente abolindo o futuro,
Enterrando o passado para redescobrir o mundo,
Criando a eternidade no infinito de um segundo.

O tempo não  cabe em nós.
Ele perpassa gerações,
É  obra de multidões.

Existo entre os que nascem,
Vivo pelos que morrem,
Sem ser ninguém em meus dias.

PRIMITIVISMO II

Resta agora,
No íntimo inferno do tempo presente,
Recusar o poder, o progresso,
E todos os delírios de uma razão  triunfante.
Abominar a História,
As promessas da civilização.

É  preciso acordar todas as infâncias,
Arcaismos e primitivismos,
Resgatar a simplicidade de uma natureza virgem,
Saber a terra como os índios,
Antes que seja tarde demais
Para a vida.

POESIA E MEMÓRIA VIVA

A memória nega o cotidiano,
Recusa a miséria dos fatos,
Na imaginação  da vida
Que nos transcende os dias
através do vazio dos atos.

A memória inventa o mundo,
O afeto e o significado de um passado
Enterrado vivo no eterno
Que transborda o tempo.

Lembrar é  saber algo mais
Do que o vivido.
É  habitar narrativas a sombra do mito.

A memória é  filha das musas
E vive do encanto da poesia
No eterno presente
Dos gestos da fala.

O PERIGO DO MORALISMO

Julgamentos morais inspirados por qualquer verdade, tornam a solução  pior do que o problema.

O moralismo é  uma doença contagiosa que mantém vivo o rebanho. Isto o faz mais eficaz do que qualquer juízo crítico.

O quanto de moralismo sustenta suas convicções?

CONTRA O CONTROLE

Já não impressiona a indignação,

A perplexidade,

Diante do possível do mundo.

Até mesmo a revolta

Diluiu-se em banalidade.

Mas o controle não é,

Jamais será, absoluto.

De alguma forma,

Transbordamos,

Fugimos a ordem das coisas,

E adivinhamos o porvir.

CANTO LIVRE

A liberdade e o céu
É  da natureza dos pássaros,
Mas os escravos da terra
Inventaram gaiolas
E querem em suas casas
Um canto cativo.

Felizmente, a terra
Enterra seus filhos
E o canto livre dos pássaros

sempre  decorará o céu.

CRIANÇA CÓSMICA

Sei o mundo como uma criança.

Todas as minhas experiências são intensas,

Pueris,
E guardam universos dentro de versos.

Entre paradoxos e simulacros,
Tudo em mim foge a ditadura da representação,
ao ideal e a moral.

Detesto hierarquias, normas e princípios.

A vida é vento.

Não me queiram preso a um rosto,
a um teto ou qualquer verdade.

Amo estar livre entre as coisas e pessoas

Que encantam e definem o microcosmos que me habitam.

LIBERDADE DE IMAGINAÇÃO JÁ!

Nenhum escrúpulo deve pautar o trato diário com nossas fantasias.

Quanto maior a ousadia da imaginação, melhor para invenção de novas formas de vida, de sorrisos de pensamentos, e bailado de ideias embriagadas de afetos. Pior para o cotidiano, a bíblia, a ciência, a linguísticas, a escola, a políticia, o Estado e todo modo deserto de produzir mundos e fatos sem sentimentos.

É preciso ir sempre além do possível, da linha reta da vida que nos impõe as sombras que dominam o mundo da lei & progresso do sempre igual.  

Não tenham pudores. Desçam a rua em procissão cantando hinos órficos e dedilhando arpas imaginárias. Reivindiquem o triunfo retumbante do nada. Livrem-se de todas as identidades e ilusões. A liberdade é um precipício sorridente!

O GRANDE PARADOXO OCIDENTAL

O grande paradoxo de nosso tempo é  a irrepresentabilidade do fim da representação, do colapso do dualismo sujeito objeto, a libertação  do sentido do efeito de verdade que produz o falso.

O curto circuito dos signos na avalanche de informações desertifocou todos os discursos, reduzindo o pensar a deriva do corpo dançando o mundo na festa das experimentações.

Jaz morto todo logocentrismo.
A realidade não tem mais alma.

FUJA DA REALIDADE

Há  formas banais de fugir a realidade.
Ir ao cinema, beber, comer,
Ou, simplesmente, dormir.

Ninguém é  lúcido e produtivo
O tempo todo.
Ninguém  suportaria.

A consciência é  mais intensa
Quando delira.
Precisamos fugir a realidade,
Decapitar a razão em praça pública.