domingo, 26 de abril de 2020

TOTALIDADE

No fundo oco do eunaon
Me tornei ninguém.
Encontrei apenas o mundo,
O suspiro indeterminado das épocas,
O tempo sem história da natureza,
Desfeito em eterno retorno.

Minha voz era silêncio
Na impessoalidade dos enunciados.
E  eu tinha diante de mim
Os restos mortais da eternidade.

Tudo era tarde,
Inatual e definitivo.



sexta-feira, 24 de abril de 2020

SEJA MARGINAL

Tenha a determinação  de um criminoso,
A imaginação de um louco,
a coragem de um amante,
E a irresponsabilidade de uma criança. 
Seja marginal,
Não viva como um morto.

OS FILHOS DA REVOLTA

A revolta que acorda o sistema nervoso,
A revolta visceral, animal, instintiva,
É o que redime todas as vítimas da civilização, 
Dos belos raciocínios da razão  de salão. 

A revolta é nossa estética, 
Nossa falta de pão,
Nosso desprezo pelo pacto social.
Ela é  nossa arma e nossa dignidade.
Vivemos para fazer da revolta 
O vírus de uma grande peste.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

O PARADOXO DA EXISTÊNCIA

Não sou o sujeito que define um nome.
Sou o vazio de um corpo vivo
Antecipando a própria morte.

Sou a vida que me habita
Mas que só  é  possível
Onde me ultrapassa.

Sou a sorte,
O destino e o acaso,
De uma consciência incerta. 

Eu não  existo onde penso
Pensado pelo pensamento 
Que me inventa.


domingo, 19 de abril de 2020

SOBREVIVÊNCIA



A sobrevivência,  sempre renovada,
Da espécie humana,
O desenvolvimento das civilizações 
E suas invenções contra a natureza,
Povoam as delirantes  linhas 
Das narrativas históricas,
Que apresentam nossa miséria,
Nossa angústia diária,
Como  progresso e glória, 
Quando só  existe o absurdo,
de nossa condição 
De degenerados primatas.

Inventamos a nós  mesmos 
Contra a  simplicidade
De todas as formas de vida.

Sobrevivemos,
Diariamente,
Reinventando a morte.


Quase não existimos
Resistindo a nós mesmos.




sexta-feira, 17 de abril de 2020

ESQUIZOFRÊNICO

Livre de mim,
Não  sabia ser outro,
Aprendendo a ser ninguém. 

Eu era aquele que dizia sim,
Um segundo que gritava não,
E um terceiro sempre silencioso.

Tudo era uma questão  de momento,
Una variação da ilusão 
De sempre estar com a razão
Com um caco de verdade na mão. 








segunda-feira, 13 de abril de 2020

RAZÃO E TOTALITARISMO


Nosso racionalismo ama o totalitarismo,
A ditadura de qualquer verdade universal.
Não  admite, assim, divergências,
Vendo na liberdade a semente de um grande mal.
Há  sempre o certo, o errado,
E o castigo,
No caminho do bem e do mal.





NOVA BABEL

Há  discursos demais,
Explicações demais,
Informações demais.

Atingimos o ponto da convulsão do significado,
Do colapso da enunciação, 
Onde o óbvio se tornou incompreensível.

Agora,
Só nos resta 
Re-significar o mundo como experiência do impermanente
Através dos cinco sentidos. 



domingo, 12 de abril de 2020

DEPOIS DO FIM DO MUNDO


As paisagens 
Estão livres de nossa humanidade,
Do pandemônio da civilização. 

O futuro transborda em todas as partes.
Todos os lugares respiram eternidade
No sem tempo da natureza. 

Torna-se evidente
A mais óbvia das verdades:
A vida não é
E nunca foi humana.





sábado, 11 de abril de 2020

PRÉ REVOLUÇÃO

Amanhã, 
Antes do café, 
O futuro há de desabar sobre nós, 
Apesar de todos os protocolos de segurança, 
Do absurdo das autoridades
E este estado de vigilância.

Vamos nos embriagar de esperança,
Rasgar decretos e mandamentos,
Libertar todas as infâncias. 

Acordaremos mil fins do mundo
No casamento do céu e do inferno.
Há  de ser uma grande festa.

domingo, 5 de abril de 2020

SEJA COMO AS ÁRVORES

Nós  aprendemos a pensar com o vento,
A existir com as pedras,
E sentir com a terra.

Já  não  somos humanos
E ignoramos o tempo.

Habitamos o silêncio 
Na confusão do orgânico e inorgânico.

Imitamos as árvores
Enquanto nos reinventarmos em silêncio.  

sábado, 4 de abril de 2020

SER E MITO

Apesar de todos os artifícios,
Metáforas, gramáticas de existência
E civilizações, 
Existimos em eterno estado de natureza.

Somos movidos pelo desejo
Onde o tempo é  eterno retorno
No ciclo das quatro estações do corpo.
Corpo que é  terra,
Sol e lua
Entre a floresta e a aldeia. 

Um animal é  meu guia
Na cosmogonia de ser 
Através  do passado
E do infinito de todas as coisas.

A vida segue como um rio,
Enquanto escuto velhas histórias 
Lendo constelações e mitos
Ao romper de uma nova aurora.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

VIRTUALISMO

O feitiço do Virtual,
Da eternidade do póstumo,
Do impertinente impossível 
É o que nos faz seguir em frente.

Nos oprime o possível,
O objetivo,
A queda no tempo.
Mas algo dentro de nós 
É  intemporal,
Incondional e intempestivo.

Somos feitos daquilo
Que não tem nome.