DESESPERO

Desfeitas todas as possibilidades do acaso, todos os inúteis  promessas e ilusões de dias melhores , a realidade desnuda nos comove, nos reinventa no desesperar das coisas em ânsias absurdas.
Brotam delírios entre os cacos do agora, ultrapassamos a beira do abismo, rasgando todos os pensamentos, o convencional das roupas e do rosto.
Nada mais importa. As favas todos os limites, todas as verdades e convenções estabelecidas!
Explodiremos em selvagem e violenta liberdade,
Em incêndios, gritos  e desesperos!
Transformaremos a destruição em arte,
Em transfiguração absoluta.  

ACASO

Ao acaso
Nos encontramos
Neste quarto
No franco
Da muda intimidade.
Um corpo no outro
Dentro de noites
Por poucos momentos
Fomos...
Depois adeus,
Silêncio
E um resto de madrugada.

ELOGIO AO NÃO DITO

A vida seria plena

Caso as pessoas

Fossem capazes

De viver o não dito

De suas existências

Na mais radical subversão

Daquilo tudo

Que ainda

Conseguem dizer.

A IDEIA DE BEM COMO PATOLOGIA SOCIAL: UMA CRITICA A DOUTRINA DA PRIVATIO BONI

A doutrina cristã do privatio boni, de um bem absoluto, privado de mal, é uma codificação religiosa que transcende a esfera teológica e adentra os obscuros e contraditórios caminhos da patologia social.

Segundo Jung, até mesmo deus, enquanto imagem arquétipo do self, possui uma sombra....

TEU MUNDO

Sinto falta do mundo
Definido pelo
Teu perfume,
Pela sua voz,
Pelo teu calor.

Sinto falta
Daquele mundo
Onde existi um dia
Agônico e urgente
Através do teu corpo...

NAUFRÁGIO

Há um mar revolto
Na folha de jornal,
Como no prato
Sujo de comida
Do almoço.
Há um mar
Crescendo em toda
Parte,
Afogando a realidade
E apagando verdades
Que já não
Me servem mais.
Apenas pensamentos náufragos
Me sustentam a realidade.

MALDIÇÃO

O vicio de querer
Mais do que o possível
De uma vida inteira
É o destino daqueles
Que demasiadamente
Odeiam o mundo.
Impossível  escapar
Desta cruel sentença
Que atormenta
Os que cultivam
O intenso
Da mais escura 
e rubra vontade.

A INTIMIDADE DA LIBERDADE

Me encanta

A musica dos gemidos,

As irracionais gramáticas

Do prazer profundo

Restrito ao irrestrito da alcova,

Lugar de não lugar,

Onde todas as mascaras

E hipocrisias sociais

Se quebram

Entre lençóis

Na intimidade da liberdade

Humana

Através do coito,

Do encontro sem verdades

E regras de falsidade

E sociedade... 

Pouco me importa

sua triatalidade.

A AVENTURA DA FLORESTA

A formula patética do amor romantico  deve ser transcendida pela certeza de que dois seres humanos podem projetar um no outro tão profundamente a condição humana , até o ponto de apagar vínculos e estarem juntos pela mais elementar necessidade de negarem o mundo e a fatal idéia de casamento.

Enquanto símbolo de recusa da sociedade, a floresta, grande vilã da idade media, hoje reaflora em nossas imaginações como profunda consciência  de privado dialogo entre indivíduos que recusam as tradições culturais hoje pseudo estabelecidas.

DIVIDA HUMANA ou alternativa ao mito do pecado original

Lá fora

A vida

Me espera agora,

Ausente e urgente,

Enquanto tento,

Inutilmente,

Organizar aqui dentro

Minhas dividas humanas,

Os descompassos

Entre o mundo e minhas ânsias

Perante o desafio constante

De inventar uma existência

Que de tão vazia

Alcance

Qualquer avesso positivo

De finita plenitude...