Desde que passei a ser responsável pelo meu próprio
sustento nunca vivi a experiência de um lar, de ter um canto meu para guardar
minhas coisas e receber pessoas. Vivia como um errante e tudo que me importava
era ter um teto para me cobrir no final do dia e descansar o esqueleto entre
quatro paredes que me protegiam do mundo.
Mas eu não tinha um lugar meu
neste mundo, não pertencia a ninguém e nem habitava qualquer canto da cidade.
Não era do tipo que vivia de identidades e lugares comuns. Ter quatro paredes como referência era uma
questão pragmática. Durante muito tempo dormir em quartos de hotéis baratos.
Eu existia apenas no anonimato
das ruas dividido entre os vazios do meu existir banal e as vontades partidas
do meu coração. Não era uma boa vida. Mas era a que eu tinha. Através dela podia
avaliar a vida dos outros de um ponto de vista privilegiado. Não vivia como a
maioria e me dava conta do quanto as convenções do dia a dia eram fúteis.
Ninguém era realmente feliz com a vida que levava. Mas isso não era coisa fácil
de se admitir.
De minha parte existia como um nômade existencial a deriva em meio
as indeterminações e não lugares da minha condição humana. Estava a margem da
sociedade e do cotidiano. De alguma forma muito estranha, não pertencer a coisa
alguma, nem mesmo ter uma casa, me colocava em uma posição privilegiada em
relação aos meus semelhantes.
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