sexta-feira, 3 de julho de 2015

NOTA SOBRE PROSTITUIÇÃO, ESPAÇO RITUAL E CULTURA CONTEMPORÂNEA

Acredito que relacionamentos afetivos e sexomania não se enquadram na fórmula utópica e conservadora do amor românico e eletivo, mas que de modo muito curioso aproximam-se de um jogo de sedução que revela a prostituição como lugar/vivência privilegiado para a construção da afetividade.

Sei o quanto tal tese pode em um primeiro momento parecer absurda, mas em uma passagem do livro de entrevistas CEM ANOS DE PSICOTERAPÍA: E O MUNDO ESTÁ CADA VEZ PIOR,  onde Michael Ventura entrevista o renomado terapeuta pós junguiano James Hilman encontrei algumas reflexões que  corroboram minha tese.
Parafraseando Hilman, os bordeis clássicos que sempre existiram ao longo da história é que fazia parte da boa cultura, expressavam o sexo como uma experiência sagrada  no cultivo da imaginação  e da vida psíquica.
Em suas próprias palavras:

“ HILMAN- A única forma de se entender alguns casamentos, ou porque algumas pessoas estão juntas, é que elas finalmente encontraram com quem compartilhar sua perversão.
Ventura- Gosto disso. É um bom motivo para alguém se casar e um bom motivo para ficar casado. Porque  o que a sociedade está chamando de perversão, a pessoa sente como uma experiência transcendental.
HILMAN-É o que se deve fazer com os dilemas do sexo: transar num espaço ritual. Em vez de fotografias de vaginas e pênis.
VENTURA- Transar num templo. “Eu vos convoco em nome de Deus.”
HILMAN- Nos antigos bordeis cuidava-se da imaginação das pessoas. O mesmo encontra-se em Sade, cujas histórias são uma série de imagens. Quando não se cuida da imaginação, só resta  o que hoje conhecemos como sexomania e terapia sexual ( que é a tecnologia do século e não a arte do sexo), bem como avós e tios acariciando menininhas. Novamente, molestamento sexual e tudo o mais são em parte função da prostituição reprimida e de toda sexualidade considerada “anormal”.
VENTURA- E reprimir a prostituição, como reprimir as drogas, é instigar e provocar agressões ainda maiores, como a exploração, a violência, as doenças e a escravidão.”


( JAMES HILMAN E MICKAEL VENTURA. CEM ANOS DE PSICOTERAPIA.... E O MUNDO ESTÁ CADA VEZ PIOR. Sp: summus editorial. Trad. Norma Telles, 1985. Pg. 203.)

Nenhum comentário: