Acredito que relacionamentos afetivos e sexomania não se enquadram na fórmula
utópica e conservadora do amor românico e eletivo, mas que de modo muito
curioso aproximam-se de um jogo de sedução que revela a prostituição como
lugar/vivência privilegiado para a construção da afetividade.
Sei o quanto tal tese pode em um primeiro momento parecer absurda, mas
em uma passagem do livro de entrevistas CEM ANOS DE PSICOTERAPÍA: E O MUNDO ESTÁ
CADA VEZ PIOR, onde Michael Ventura
entrevista o renomado terapeuta pós junguiano James Hilman encontrei algumas reflexões
que corroboram minha tese.
Parafraseando Hilman, os bordeis clássicos que sempre existiram ao
longo da história é que fazia parte da boa cultura, expressavam o sexo como uma
experiência sagrada no cultivo da
imaginação e da vida psíquica.
Em suas próprias palavras:
“ HILMAN- A única forma de se entender alguns casamentos, ou porque
algumas pessoas estão juntas, é que elas finalmente encontraram com quem
compartilhar sua perversão.
Ventura- Gosto disso. É um bom motivo para alguém se casar e um bom
motivo para ficar casado. Porque o que a
sociedade está chamando de perversão, a pessoa sente como uma experiência
transcendental.
HILMAN-É o que se deve fazer com os dilemas do sexo: transar num espaço
ritual. Em vez de fotografias de vaginas e pênis.
VENTURA- Transar num templo. “Eu vos convoco em nome de Deus.”
HILMAN- Nos antigos bordeis cuidava-se da imaginação das pessoas. O
mesmo encontra-se em Sade, cujas histórias são uma série de imagens. Quando não
se cuida da imaginação, só resta o que
hoje conhecemos como sexomania e terapia sexual ( que é a tecnologia do século
e não a arte do sexo), bem como avós e tios acariciando menininhas. Novamente,
molestamento sexual e tudo o mais são em parte função da prostituição reprimida
e de toda sexualidade considerada “anormal”.
VENTURA- E reprimir a prostituição, como reprimir as drogas, é instigar
e provocar agressões ainda maiores, como a exploração, a violência, as doenças
e a escravidão.”
( JAMES HILMAN E MICKAEL VENTURA. CEM ANOS DE PSICOTERAPIA.... E O
MUNDO ESTÁ CADA VEZ PIOR. Sp: summus editorial. Trad. Norma Telles, 1985. Pg.
203.)
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