A consciência que define para mim
quem eu sou e me diz o que o mundo é , não passa de uma engenhosa fantasia de
nossa condição de animais perdidos entre a natureza e a cultura. Tudo aquilo
que para nós existe não passa um ato de linguagem, um artifício. Nossa condição
humana é produto de artifícios e, talvez, um dia, considerando o avanço
tecnológico, possa finalmente ser ultrapassada por eles.
Não estou certo sobre coisa
alguma. Chego a a pensar que não existo se quer em mim mesmo, que há algo de
assustadoramente artificial em minha própria fala, gestos e sentimentos. A
própria ideia de realidade é para mim um jogo complexo de significantes e
significados que não encontram qualquer correspondência exterior a nossa
codificação do mundo e, por mais sofisticadas que sejam nossas abstrações,
permanecem presa ao crivo de nossa experiência sensível das coisas.
Considero, apesar de seu caráter
absurdo, a fantasia do inteiramente outro de nós mesmos, a vertigem do
pensamento, como um desafio instigante e revelador sobre a fragilidade de tudo
aquilo que nos parece dado e “natural”.
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