terça-feira, 25 de agosto de 2015

BREVES APONTAMENTOS SOBRE A ATUALIDADE DA CONTRA CULTURA E DO IDEAL LIBERTÁRIO

Há muita confusão quando se fala hoje em dia na contemporaneidade do anarquismo. Tendo a pensar que o anarquismo moderno, em suas formulações clássicas, no seio do debate do movimento socialista internacional do século XIX e no embate com o socialismo real no  inicio do século XX,  não sustentam sua contemporaneidade enquanto matriz de um ethos ou ideário libertário capaz de dar conta dos novos dilemas projetados pela sociedade pós industrial e suas novas tecnologias.

Vejo o anarquismo como uma critica ao Estado Moderno e a premissa de uma organização social fundada em hierarquias e práticas coercitivas e consensuais de regulamentação abstrata das interações humanas. Assim, o anarquismo é também uma critica a toda tradição e as convenções, uma filosofia cujo fundamento é a afirmação da autonomia do indivíduo e a imposição de  restrições ao coletivo e sua tendência a tutela moral da vida privada.

Tentando pensar um anarquismo filosófico que deslegitima as relaçãos de ordem e poder que nos inspiram o cotidiano, penso o ethos libertário como uma forma de contra cultura que se embriaga em suas origens no movimento romântico, nas vanguardas europeias, em especial, no legado dadaísta e surrealista, do que em qualquer ideologia política ou pratica associativa do chamado mundo do trabalho.

O anarquismo é antes de tudo uma forma de poesia e evasão que nos conduz a  existência como um ato estético. Sua materialidade enquanto força inspiradora da ação direta e cotidiana de indivíduos, exige a ousadia de romper com nossas seguranças e certezas pessoais, com nossa vaidade e narcisismos.  A realidade não é uma matéria compatível com nosso pueril desejo de qualquer forma idealizada de associação entre os seres humanos.  Trata-se sim de nos tornamos capaz de viver e lidar com as contradições e misérias humanas.
Quem  ousar afirmar a pratica libertária  no tempo presente deve sabe-la como um desafio, como a vontade posta em movimento de desconstrução e reconstrução constante de si e dos outros.  Nada é mais desagradável do que a liberdade como princípio e essência de nosso estar no mundo.

De pouco adianta responder o poder com coerção subjetiva frente ao autoritarismo onipresente. Devemos ser a liberdade em cada ato cotidiano. Afinal, o que transforma o mundo é a liberdade e não a necessidade. Superar o reino da necessidade é não reconhecer limites a irreverência e a criatividade.
Uma cultura realmente libertária exige que cada individuo seja capaz de levar a si mesmo as ultimas consequências.Ela se destina a formar indivíduos e não cidadãos que seguem como rebanho qualquer ideal ou principio abstrato de risível ordem social.
Não acreditamos mais em utopias. Queremos mudar o aqui e o agora  através da microfisica da redefinição das relações entre as pessoas a partir do reconhecimento do quanto elas são medíocres e limitadas em uma sociedade que nunca funcionou para todos.

O anarquismo tem como meta uma sociedade de plenos indivíduos. Ele é o inimigo da mediocridade coletivista que nos assombra em todas as direções do acontecer humano. O breve século XX ainda está por ser superado...

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