quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

FRAGMENTOS INESQUECÍVEIS DE SALVADOR DALI III


“A bomba de Hiroshima estourou num céu imaculado. “Pikadom” (luz e ruído), disseram os poucos japoneses que dela escaparam. Eu pintava Gala nua, de costas, e Galarina, todo entregue a meu amor e atração da volutoisade, quando senti a trepidação sísmica da explosão que me encheu de terror. Não pude jamais imaginar os duzentos mil mortos que, aliais, reduzidos a cinzas, não eram facilmente reconhecíveis, mas eu pensava horrorizado que uma explosão em cadeia poderia muito bem se produzir, incinerando o mundo antes que eu terminasse o colo perfeito da minha Galiana, comprometendo assim a minha imortalidade. O fato de depender dos azares da história me enchia de inquietações. Ninguém estava seguro, em qualquer canto do mundo que fosse. Resolvi colocar em estudo, sem mais demora, o melhor método de preservar a minha preciosa existência dos golpes mortais e comecei a me preocupar seriamente com as receitas de imortalidade. A Melancolla Atômica, que então pintei, exprime minhas duvidas e minhas incertezas, nascidas em 6 de agosto de 1945.”

(Salvador Dali. As Confissões Inconfessáveis de Salvador Dali; texto apresentado por André Parinaud/trtadução de Flávio e Fanny Moreira da Costa; revista por Heloisa Fortes de Oliveira. RJ: Livraria Jose Olympio, 1976, p.198)

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