Estranhamentos desde
sempre me definem e posso dizer que cultivo algumas animalidades para
permanecer sadio. Não é isso, afinal, o que estabelece nossa condição humana? Um
afastamento ou recusa de nossa situação natural através dos jogos simbólicos das
codificações culturais?
Somos nas
instituições de nossa vida coletiva, através de nosso trabalho de produção e
reprodução de mundo, de civilização, ao longo das descondinuidades das épocas históricas
e sociedades. Viver é para nós um inconclusivo vir a ser. Nada mais natural que
isso produza estranhamentos, vertigens. Nunca estamos inteiramente á vontade diante
dos artifícios culturais e seus dispositivos de subjetivação.
Tendemos a conceber
o mundo e a realidade como uma multiplicidade orgânica, normatizada e inteligível,
mas a o que de fato acontece é um fluxo interminável de experiências nos quais
estamos contidos e através dos quais pouco somos. É este deslocamento de nossa
auto representação como sujeitos que me parece cada vez mais ameaçado diante do
simples e imanente acontecer da existência. É nossa fragilidade que nos define,
não as ilusões de nossas realizações civilizatórias. Toda História humana não
passa de um grande desastre, de um amontoado de ruinas e sofrimentos. Não
passamos de animais mutilados.
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