terça-feira, 2 de junho de 2015

A PROSTITUIÇÃO DO PRIVADO

A vida privada deixou de existir tal como concebida pela sociedade burguesa europeia do século XIX e primeiras décadas do século XX. A tecnologia envenenou a construção da subjetividade através de diários e missivas, chegando a paradoxal situação contemporânea inaugurada pelas novas tecnologias digitais, onde tudo que é privado deve prostituir-se no espaço público como um novíssimo princípio de intersubjetividade.

A prostituição é hoje o grande paradigma da invenção de si mesmo. Deve-se compartilhar com os outros  as alegrias e as tristezas, o que gostamos e não gostamos, o que vivemos e o que queremos viver. Tudo que anteriormente era reservado a solitude  agora deve ser publicamente oferecido ou revelado sem pudor na arena da vida pública, como hiper realidade, onde já não cabe mais o velho conceito de real.

A individualidade tornou-se promíscua, não no sentido da velha moral, mas da devassidão de uma consciência cada vez mais aberta ao cotidiano comum, a compulsão de dizer e mostrar como fundamento de uma nova categoria de prestigio.

O irônico em tudo isso, é que quanto mais nos expomos e relacionamos, menos sabemos de nós mesmos.


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