A vida privada deixou de existir
tal como concebida pela sociedade burguesa europeia do século XIX e primeiras
décadas do século XX. A tecnologia envenenou a construção da subjetividade
através de diários e missivas, chegando a paradoxal situação contemporânea
inaugurada pelas novas tecnologias digitais, onde tudo que é privado deve prostituir-se
no espaço público como um novíssimo princípio de intersubjetividade.
A prostituição é hoje o grande
paradigma da invenção de si mesmo. Deve-se compartilhar com os outros as alegrias e as tristezas, o que gostamos e
não gostamos, o que vivemos e o que queremos viver. Tudo que anteriormente era
reservado a solitude agora deve ser
publicamente oferecido ou revelado sem pudor na arena da vida pública, como
hiper realidade, onde já não cabe mais o velho conceito de real.
A individualidade tornou-se
promíscua, não no sentido da velha moral, mas da devassidão de uma consciência
cada vez mais aberta ao cotidiano comum, a compulsão de dizer e mostrar como
fundamento de uma nova categoria de prestigio.
O irônico em tudo isso, é que
quanto mais nos expomos e relacionamos, menos sabemos de nós mesmos.
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