Era
apenas mais um dia como qualquer outro para a jovem Sophia. Penteava naquela
manhã diante do espelho do quarto seus cabelos louros e encaracolados , diga-se
de passagem, demasiadamente longos,
admirando a delicadeza do teu rosto e a mansidão de seus olhos verdes. Julgava sua
beleza seu único trunfo diante do mundo, sua única qualidade. Julgava não ter outra
coisa boa além da aparência. Ao mesmo tempo, entretanto, não queria ser julgada
por sua beleza, pelo superficial de sua forma esbelta e curvas sensuais. Era terrível
saber que suas amigas lhe invejavam e os homens suspiravam apenas por sensualidade
de sua bunda . Por isso, quanto mais atenção lhe davam, mais se sentia invisível.
Sophia
era apenas uma mulher de trinta anos como tantas outras por ai. Queria casar,
ter um bom emprego e não viver mais as custas da mãe que a criara sozinha e com
muita dificuldade. Queria, como se diz, “ser alguém na vida”. Nutria apenas os
mais fúteis e banais sonhos de ser no mundo.
Mas também
possuía certa inquietude e desconforto com as rotinas e limites do mero dia a
dia. Era senhora de uma imaginação prodigiosa que escondia dos outros em sua
radical timidez. Passava a maior parte do tempo sozinha em seu quarto quando
não estava na universidade cursando a faculdade de História e tentando entender
como funcionava o mundo e o coração humano ao longo da grande aventura do tempo
e espaço.
Na mínima
morada do seu quarto ela não era aquela beldade invejada e desejada que os
outros conheciam. Era uma quase criança
cheia de sonhos estranhos e desejos incomunicáveis. Estava sempre se
masturbando e brincando com seu próprio corpo.
Nada
lhe definia melhor a vida do que aquela compulsiva busca do gozo, do que o
vicio de sentir-se plena em seu próprio corpo no desregramento dos sentidos e
vertigens do pensamento.
Sua
buceta ficava molhada com facilidade na maestria das carícias dos seus
delicados dedos de fada. Ela sabia se impor prazer com uma habilidade que só pode ser definida como
poesia. Uma poesia que nenhum pau ou língua seria capaz de imitar.
Em seus
múltiplos orgasmos ela se reinventava como uma sibila. Adivinhava todas as
razões do universo, todos os significados da condição humana que lhe pareciam
opacas nas aulas de História. Sim. Era como se fosse outra pessoa quando
solitariamente atingia o gozo entre as quatro paredes do seu quarto.
Mas
durava tão pouco a delicia do seu gozo... Isso a fazia pensar sobre o limite de todas as coisas humanas. Nenhuma
outra experiência lhe parecia mais importante do que o delicioso delírio erótico e solitário que seu prazer egoísta
inventava.
Para
Sophia a masturbação preenchia de cores um mundo em preto e branco e sem real
sentido. As pessoas para ela não significavam
grande coisa e não ofereciam boas trocas subjetivas. Depois de algumas
decepções amorosas, aprendeu que não valia a pena esperar nada dos outros. Nem
das amizades. A vida social era feita de fotos em aparelhos de celular para
serem compartilhadas na internet. Todo mundo queria vender felicidade, Uma
felicidade que não era mais do que uma fantasia para suportar suas frustrações e angustias mais intimas.
As
pessoas eram hipócritas e vaidosas. Não lhe serviam de companhia. O mundo não
passava da algazarra de múltiplos silêncios compartilhados no dia a dia em cada
palavra e jesto dos artificialismos do cotidiano trato social.
Por isso
Sophia estava convencida de que , através da masturbação, havia descoberto a
mais profunda verdade da condição humana. Somos todos masturbadores do próprio
ego, um bando de coitados querendo que o mundo se dobre as suas vontades e
caprichos. Viver era criar o tempo todo estratégias de lasciva sobrevivência na
sedução e instrumentalização dos outros.
Pensava,
as vezes em suas aulas de história. Nas
lições sobre o contratualismo e o mito de um pacto social contra um suposto
estado de natureza que se encontrava na raiz do caos da modernidade burguesa.
Essa ideia ridícula lhe irritava. Para ela era evidente que a sociedade sempre
foi apenas um pacto de egoísmos organizados e regulado pela hipocrisia de
tradições fudadas no tosco das boas intenções e humanismos. Para ela, o que
melhor definia o estado de sociedade era a invenção do crime para garantir a
convivência comum.
O mundo
era apenas uma merda que ela suportava se embriagando com seu gozo solitário e
pleno no absoluto domínio do próprio corpo. Não lhe importava, no mais profundo
de si, ser feliz entre os outros. O que a definia de verdade era a embriagues dos sentidos de
sua livre e feliz boceta molhada. Também
gostava de explorar as possibilidades do cu. Não tinha regras no explorar do
seu próprio corpo.
Não
importava a Sophia a vontade, os sonhos e o desejo dos outros. Era a plenitude de sua própria vontade (
verdade) que lhe importava acima de qualquer coisa. O sexo deveria ser
considerado, segundo ela, a definição perfeita de religião. Pois não existe
outro deus além do prazer erótico, do êxtase perfeito da carne em sua contracultural
solidão...
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