quarta-feira, 29 de abril de 2015

QUANDO O TELEFONE TOCA ENQUANTO O MUNDO SOME

Desculpe-me. Não posso atender agora. Melhor não me perguntar porque. Não tenho nada a dizer ou responder. No momento não sou capaz de brincar com o cotidiano dos vazios entre as palavras e as coisas, encontro-me incapacitado ao exercício da frivolidade humana.

Sim. Estou ocupado com o ócio e o vazio da existência, afogando em mim mesmo como um grão de areia abraçado por um mar furioso em madrugada de ventos e tempestades.  Sei que isso pode lhe parecer dramático, exagerado. Mas o dizer tem seus limites. Você pode saber minhas palavras mas jamais saberá minha vida. Não tente entender. É impossível.

Só sei que você ligou no pior momento. Já não cabe compartilhar nada com ninguém, Encontro-me atualmente desconectado de mim mesmo. Sei que dei errado para o mundo, que recusei os lugares comuns da boa existência em nome de um sentimento selvagem de desfuncionalidade absoluta de toda cultura humana.  Algo não deu certo em mim. Desobedeço as leis que nos tornam possível qualquer satisfatório convívio social.

Estou aqui afirmando minhas próprias exigências nas possibilidades do mais franco desespero. E isso é tudo que posso fazer neste momento em que o mundo me parece hostil demais para ser minimamente suportado.

Entenda. Não poso aceitar sua chamada agora. Neste instante eu quase não existo....

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