segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

ESCRITA DEVIR E INTENCIONALIDADE ABERTA

Quando o dizer não tem claramente uma estratégia de construção de sentido, de invenção de verdade, ele se faz livre para produzir narrativas de devir. Nestas, o sentido é encadeado por imagens através das quais o texto inventa a si mesmo. Cada enunciado é consequência do outro, seu desdobramento mais natural, na teia viva da imaginação criadora.

Ficção e realidade deixam de estabelecer uma dualidade discursiva inspirada pela pretensão a verdade. O simulacro é a condição da linguagem. O próprio real é uma construção de nosso modo de codificar e dizer o mundo.

A exposição narrativa já não se pretende nem expositiva e muito menos analítica. Não se engaveta nos armários dos conceitos; não estabelece normas, ou pretende reduzir a si mesmo a essência das coisas como representação.

É preciso que haja antes uma consciência das palavras antecedendo o sentido de uma frase. Pois o dizer é uma forma de reinventar significados. E o significado de uma frase pressupõe uma palavra objeto que conduza a próxima frase, expontaneamente ao próximo passo. Quando nenhuma estratégia ou objetivo discursivo se coloca na narrativa.

Não se fala aqui de escrita automática, como faziam os surrealistas. Pois há certa intencionalidade no ato do discurso. Mesmo que não previamente direcionado. Mas improvisado como o fluxo do próprio cotidiano. Não raramente o previsível de nossas rotinas nos surpreende. Isso também serve para um texto.   





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