quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ANDRE BRETON E OS LIMITES DE EROS...




Embora tenha representado dentro do movimento surrealista uma arbitraria ortodoxia, incompatível com a riqueza de seus expurgados dissidentes, como Artaud e Dali, André Breton é uma incontornável referência desse movimento desafiador de nosso pouco e magro cotidiano.
Reproduzo aqui uma passagem do primeiro manifesto surrealista ( 1924) onde a liberdade é afirmada por Breton como a própria essência do surrealismo, mas não sem um confronto com a imaginação criadora como principio radical além de Eros e o mais profundo irracionalismo:


“Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoeares.
Só o que me exalta ainda é a única palavra: liberdade. Eu a considero apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano.. Atende, sem duvida, à minha única aspiração legitima. Entre tantos infortúnios por nós herdados, deve-se admitir que a maior liberdade de espírito nos foi concedida. Devemos cuidar de não fazer mau uso dela. Reduzir a imaginação a escravidão, fosse mesmo o caso de ganhar o que vulgarmente se chama a felicidade, é rejeitar o que haja, no fundo de si, de suprema justiça. Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para me surpreender por um instante a interdição terrível; é bastante também para que eu me entregue a ela, sem receio de me enganar ( como se fosse possível enganar-se mais ainda). Onde começa ela a ficar nociva e onde se detém a confiança do espírito? Para o espírito, a possibilidade de errar não é, a contingência do bem?”
( Andre Breton. Manifestos Surrealistas/tradução de Luiz Forbes. SP: Brasiliense, 1985, p. 34-35 )

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