Nunca entendi
muito bem esta obsessão, que atravessa todas as culturas humanas, em representar
a humanidade como uma espécie quase apartada do reino
animal. Afinal, somente a valoração equivocada
de nossas peculiaridades comportamentais, entre os demais mamíferos,
permite sustentar a ilusão de que somos
de algum modo superiores.
Um cérebro mais
avantajado, linguagem, polegar opositor e outras bobagens não legitimam nossa
vaidade e narcisismo especifista. Se o ser humano é um ser histórico, na medida
em que tem consciência de si mesmo e do mundo de forma complexa, isso o torna
apenas o mais imperfeito e lamentável dentre todos os animais. Não vejo porque
deduzir desta peculiaridade qualquer vantagem ou virtude. Somos seres
desgraçados. Admitir isso seria um bom ponto de partida para qualquer reflexão
sobre o futuro da humanidade ou do inumano
como artifício de uma possível consciência desantropológica.
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