segunda-feira, 4 de junho de 2018

O CORPO COMO CARNE


Existe uma distância entre o corpo da antiguidade greco romana e a carne da era cristã. Esta distância não é dada pelo pecado ou pelo mito da queda do homem, mas pela unilateralidade de uma racionalidade abstrata que recusa a natureza, que se coloca em um campo diverso da matéria e busca a pureza das alturas da metafísica. Esta razão que é uma reminiscência do sagrado no homem, a partir do século VII converteu-se mesmo em um atributo secular e humano que, em lugar de superar a natureza, passou a instrumentaliza-la, humaniza-la. Ao mesmo tempo, a carne tornou-se menos sujeita a influência cosmológica. Mas a consciência e o pensamento preservaram sua autonomia em relação a carne, negando sua unidade com o corpo. Ainda hoje, em tempos de avanços neuro científicos,  resistimos a admitir o pensar como um fenômeno fisiológico. Mesmo que isso não anule a complexidade do pensamento enquanto condição ontológica do devir humano. Apenas ainda não somos capazes de fazer coincidir o corpo e o espírito como uma materialidade única. O corpo é considerado  apenas como a carne onde uma consciência relativamente autonoma acontece.

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