quinta-feira, 23 de abril de 2009

fragmentos inesqueciveis de Salvador Dali V


“Valores escondidos, ouro enterrado, energia secreta que não deve escapar para fora: reconhece-se aí uma concepção esotérica da vida em do mundo que se afirma também em meu erotismo do olhar, do aflorar, do tocar-sem-ser-tocado, do ovo frito no prato sem prato. Dissimular meu gênio, guardar meu ouro, reter meu esperma: um erotismo místico e propriamente alquimista. Na Idade Media, com um grão de pó de projeção, o adepto tentava transformar duas libras de matéria vil em ouro puro. Com uma pitada de gênio, procuro espiritualizar e imortalizar os setenta quilos de carne deste Dali, cujo o nome significa desejo. Fazendo da minha vida inteira um objeto de alquimia, considero-me facilmente um descendente do Catalão Raymond Lulle, glorioso metafísico, místico, alquimista, apóstolo, autor dos Doze Princípios da Filosofia e o famoso Testemunho da Arte Alquimista Universal.Acusado pelos tomistas, condenado depois da morte por uma bula papal, quando a Catalunha já o venerava como um santo,esse missionário do mais puro espírito cristão e hermético, esse doutor iluminado deveria acabar como um mártir, com mais de oitenta anos, apedrejado pelos árabes em Burgia. Meus gênios são catalães, meu gênio é da Catalunha, país de ouro e de ascese. A paixão de Deus, do ouro, e um erotismo da não consumação estão ao mesmo tempo na alma mística.”

(DALI/ PAWELS As paixões segundo Dali. / Tradução Raquel Ramalhete de Paiva Chaves. SP:Editora Expressão e Cultura, 1968, p.109-110)

Nenhum comentário: