sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

NIETSZCHE : A VONTADE COMO DESARTICULAÇÃO DA VERDADE


“Do papel da consciência. E essencial não nos equivocarmos quanto ao papel da consciência: foi a nossa relação com o mundo exterior que a desenvolveu. A direção, pelo contrário, — quero dizer a guarda e a previdência, em relação ao jogo uniforme das funções corporais — não nos penetra na consciência; tampouco como o armazenamento intelectual que haja para isso uma instância superior, não se pode pôr em dúvida: uma espécie de junta diretora, onde os diferentes apetites principais fazem valer seus votos seu poder. “Prazer”, “desprazer”, são indicações vindas dessa esfera: também oato da vontade, também as idéias. Em resumo: o que se torna consciente encontra-se nas relações de causalidade que nos são inteiramente ocultas. A sucessão de pensamentos, de sentimentos, de idéias na consciência não deixa compreender que essa seqüência é causal: mas é assim na aparência e no grau mais elevado. E sobre essa aparência que fundimos toda nossa representação de espírito, de razão, de lógica, etc. (— tudo isso não existe: são sínteses e unidades simuladas), para projetar em seguida esta representação nas coisas, atrás das coisas!Geralmente se considera a consciência um conjunto sensorial e instância superior no entanto é somente um meio comunicação; ela se desenvolveu nas relações, em consideração aos interesses de relação...“Relação” está entendida aqui igualmente pela influência do mundo exterior e reações que esta influência necessita de nossa parte; de igual maneira para o efeito que fora exercemos. Não é uma condução, mas um órgão condutor .
F Nietzsche. A VONTADE DE POTÊNCIA
A vontade de potência, a desesperada afirmação da vida proposta por Nietszche contra a  modernidade  e toda tradição cultural do Ocidente, talvez seja o ponto mais contemporâneo e controvertido  de sua reflexão filosófica.
Interpretações e polêmicas a parte, sobre o significado de potência em sua obra, é possível dizer, de um modo genérico, que a afirmação da vida é para ele idêntica a afirmação da imanência, levada as ultimas consequências, em uma codificação do real totalmente despida de qualquer fantasia do SER.
A vontade de potência pressupõe assim a desarticulação da verdade como meta do pensamento e da vida, sua substituição pela criatividade compulsiva em um mundo que se desfaz e refaz  no contra movimento da transfiguração de todos os valores, nas codificações imanentes e provisórias do real.
Nietzsche desfere assim um radical ataque contra o “superego/ self cultural ” enquanto instância de articulação do mundo como representação racional  e ordenamento coletivo. Ele Investe contra os “ideais” e “bons valores”  que percebemos equivocadamente como exteriores a experiência de nossa auto consciência, como um dado objetivo .
 Nietzsche, com uma ousadia precoce para um autor oitocentista, elabora assim a primeira grande critica a um “Mundo Verdade” reabilitando os impulsos instintivos, o fisiológico,  como premissa da própria condição filosófica e  humana . O pensamento torna-se assim carne, osso e vontade...


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