sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

ALFRED JARRY E O AMOR ABSOLUTO


O Amor Absoluto de Alfred Jarry ( 1873-1907), um dos precursores do Surrealismo, é uma combinação perfeita entre mito e delírio e uma inspirada subversão da mitologia cristã. O monólogo é centrado no antagonismo entre a paixão pela mãe e o ódio ao pai da sua personagem, apenas identificada como Emanuel Deus, uma clara referencia ao folclórico Jesus Cristo.

Concluída em 1899, a obra ainda goza evidentemente de profunda atualidade pelo seu caráter herético em tempos de neo fundamentalismos religiosos. Mas também nos toca a mistura profundamente passional e intensa entre loucura  e criatividade que nos faz especular sobre o caráter doentio de nossa cultura patriarcal e a redenção do feminino como princípio ontológico divino.

Pode-se, entretanto, construir outras leituras deste complexo e bem estruturado texto a partir de suas referências a cultura Bretã ou ao fantasma de Freud certamente introduzido pelo dialogo indireto com as técnicas utilizadas por Charcort e Janet, precursores da psicanálise ou da psicologia profunda, correntes na época do autor ...


“... Emanuel Deus, pela porta entreaberta, observava, sob a lua que voara como um disco para o teto, longe da zarabatana do vidro da lamparina, a sua, já prevista, obra.

O Adão pudico de raposas- O Adão do século XX- unir ao seu corpo a metade amputada pelo Outro Deus...
O órgão independente segundo o espaço desde há alguns milhares de anos, o Ovário, era reabsorvido no Homem universal, único.
Emanuel Deus subiu com serenidade, realizada a assunção, ao céu de sua mansarda azul.”


( O Amor Absoluto. Alfred Jarry/ tradução e notas de Carlito Azevedo. RJ: Imago Ed, 1992, p. 73-74 )

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