MEU CORPO

Meu corpo é preguiça,

inércia e sono.

É o não fazer nada,

contrariar a moral, 

a decência,

e quebrar rotinas.

É respirar contra o trabalho,

andar contra o relógio

e toda forma de disciplina.

Meu corpo é fome,

sede, prazer e agonia.

INSUBMISSO

Talvez, eu seja executado pelo Estado

em nome da lei e da ordem,

por dizer que todos nós,

oprimidos,

vivemos como escravos,

submissos aos caprichos dos bem nascidos e letrados.

Mas jamais serei domesticado,

enquadrado e domado

pelo discurso que une o rebanho,

sob o arbítrio de um deus tirano.

O silêncio da minha morte

Será minha melhor definição de grito.

A VIRTUDE DA REVOLTA

A revolta é a maior de todas as virtudes.

Ela nos faz enfrentar o intolerável,

o abominável, o inaceitável,

saber o limite, o inegociável.

A revolta nos obriga a lutar,

mudar, sonhar 

e jamais nos conformar

ao pouco de toda realidade.

A revolta é um imperativo ético 

e expressão de dignidade.

O FUTURO SERÁ CONTRA O PROGRESSO E CONTRA O ESTADO

O futuro será dos despossuidos,

famélicos, desajustados,

disruptivos, que não nasceram para este mundo de exploração e privilégios,

que estão contra tudo que é moderno, branco, civilizado e bem educado.

O futuro será para aqueles que dispensam a razão, as ciências e o bom senso,

que estão habituados ao conflito, ao enfrentamento e aos maus tratos.

O futuro será contra a autoridade,  o progresso e o Estado.

Ele há  de nascer do grito de multidões de insurgentes  indignados.

A MALDIÇÃO DO TRABALHO

O trabalho não enriquece,

nem enobrece.

Só adoece quem se rende

a exploração.

O trabalho é uma forma de prostituição,

um fardo, uma prisão,

a qual nos submetemos por total falta de opção.

O trabalho só  serve para manter o privilégio do patrão e a opulência do Estado.

Ninguém se realiza no exercício inútil de qualquer profissão.

Todos sabem, ao contrário ,que o trabalho

é uma moderna espécie de maldição.

É impossível imaginar Sísifo feliz...

RETOPIA

Precisamos escapar 

ao cotidiano,

a rotina,

a norma,

a identidade.

Precisamos acontecer de outra forma,

experimentar,

inventar,

criar,

esquecendo tudo aquilo

que nos ensinaram na escola.

Precisamos encontrar um  outro lugar

para reterritorializar o tempo, 

o corpo, a existência

e reaprender a sonhar.

ORGULHOSAMENTE DELINQUENTE E MARGINAL

Sou o natural inimigo

da lei e da ordem,

maldito onde reina a hierarquia e a injustiça.

Sou adversário mortal

da religião e do Estado,

do racismo, da moral,

e da escravidão do trabalho.

Sou orgulhosamente radical e  insurgente,

um deliquente, um vagabundo ,

um  marginal.

CONTRA O BOM SENSO E O JUÍZO

A questão que se coloca

é que toda verdade e realidade 

não passa de ilusão e prisão.

É necessário libertar a imaginação,

fabular, delirar, reinventar o possível.

Construir uma inédita revolução 

contra o juízo.

É preciso desejar, apreender

a banalidade do impossível

e as virtudes do mal.