terça-feira, 15 de novembro de 2011

BREVE APONTAMENTO SOBRE O MONSTRUOSO E A HISTORIOGRAFIA

Em sua introdução a sua obra MONSTROS, DEMÔNIOS E ENCANTAMENTOS NO FIM DA IDADE MÉDIA o historiador Claude Kappler  explica a relevância de um dos mais fascinantes e fecundos temas da história das mentalidades e do imaginário. Creio eu que o monstro e a mosnruosidade, enquanto imagem arquetípica e ao mesmo tempo  contextualizada em cada especificidade cultural, representa um desafiador tema de pesquisa  que desagua na estética contemporânea  incarnada no  heavy metal ou em filmes de terror do século passado e até mesmo em certas escolas literárias.

Nossas codificações do monstruoso são significativamente diferentes daquelas edificadas na idade media e na renascença, pressupõem um certo prazer estético e sua dessacralizão, o que só aumenta sua pertinência como tema de pesquisa....

“A ideia deste trabalho germinou na contemplação de Jeronimo Boch. Apesar de todas as tentativas de interpretação, sua obra  continua sendo um mistério para os modernos. Ora, não era isso que ocorria no século XV e XVI: grande número de suas obras foi comprada por Filipe II de Espanha, “o rei muito católico”, que declarou querer estar, na hora da morte, diante do tríptico das Delícias. Jeronimo Bosch foi extremamente apreciado em vida e, muito provavelmente compreendido. Ai está o que contradiz logo de início a imagem de pintor diabólico, alucinado, herético, maldito; imagem esta que, no modo de ver de alguns críticos modernos, “explicaria” sua criação monstruosa. Assim se apresenta o problema que está na origem do nosso estudo: o que para nós é obscuro parece ter sido claro naqueles tempos. Por que? Se Bosch foi, ao que parece, um artista muito conceituado mas “sem história” e sem escândalos, se sua obra foi aceita com toda naturalidade e em geral apreciada, foi por estar inserida num contexto que a esclarece e explica. É esse o contexto que nos interessa: interessa-nos em si mesmo e não enquanto explicação de  J. Bosch.”    

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