sábado, 18 de maio de 2024

FRAGILIDADE

Nos falta vigor e coragem
para enlouquecer de vez,
espernear e bradar contra 
o que fizeram das nossas vidas,
o que nos obrigaram a ser,
pensar e sentir,
contra a natureza que nos habita.

Sim, nos falta revolta, raiva,
mas, acima de tudo,
nos falta dignidade.

MAIS VALE UMA CERVEJA DO QUE UMA CERTEZA

Não quero ser parte de nada.
Recuso o papel de vítima ou carrasco
de qualquer ilusão coletiva.

Prefiro ser livre de todas as crenças,
convicções e certezas.

A verdade é um brinquedo quebrado
e ninguém tem razão.
Beba uma cerveja e me esqueça.
A vida é um problema sem solução.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

SER LIVRE

Fugi dos outros, 
de mim e do mundo. 

Não quero ser visto, 
 escutado e,
 muito menos, 
analisado, enquadrado, 
 julgado e condenado a qualquer fracasso.

 Quero embriagar meu juízo 
Livre de identidades e vínculos,
 saber minha cabeça 
sem o peso das tantas receitas
 que me serão Impostas ao longo de uma vida inteira. 
Quero ser livre 
de uma liberdade 
que ainda não foi inventada.

A EMERGÊNCIA DE UM INSTANTE

Neste insignificante instante
há flores morrendo nos jardins,
Há jardins morrendo nas flores,
há natureza doente em cidades,
há vida se insurgindo contra o Estado,
a civilização, a Razão,
e  todo desastre 
que chamam de modernidade.

Neste insignificante instante
a humanidade supera
toda sua ridícula ilusão de onipotência e eternidade
através da emergência climática.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

EDUCAÇÃO PARA SUBMISSÃO

Somos educados para sociedade
e não para cultivar nossa singularidade.

Somos programados,
castrados, condicionados,
aos consensos e valores vigentes.

Somos anulados, assujeitados,
como qualquer animal domesticado.

Somos preparados para o rebanho,
para a sobrevivência e a obediência.

Somos condenados a sociedade,
ao Estado, aos deuses
ou a qualquer razão absoluta
que nos faça crêr no poder.

Somos educados para autoridade,
hierarquias e leis,
condenados a viver
contra nós mesmos,
a naturalizar tudo que abuso,
absurdo
ou nos reduz a condição de explorados.












segunda-feira, 6 de maio de 2024

MUNDO ENIGMA

O mundo, no fundo,
escapa constantemente 
a nossa percepção.

Ele não se dobra ao pensamento,
a palavra ou a qualquer forma de representação.

O mundo não  cabe em nenhuma definição de mundo,
 transborda na ilusão de Razão.

O mundo é o fora
que nos devora por dentro.
É devir, imanência e silêncio,
auto destruição e  renascimento.

O mundo é tudo que  esvai,
que foge, que morre
e, paradoxalmente,
é o que fica.
É o que não somos nós,
o que é e nunca mais será.







quinta-feira, 25 de abril de 2024

ELOGIO AOS REVOLTADOS E INSURGENTES

Não compartilho do sentimento obtuso dos justos,
virtuosos e mansos
que se curvam a autoridade,
 aos rigores da ordem vigente
e a demagogia dos privilegiados.

Estou entre os explorados,
os revoltados, insurgentes e insubordinados
que desafiam a Lei e o Estado.

Sou destes famélicos e deserdados
que nada tem a perder
e não mais suportam o peso
da miséria de um mundo
profundamente injusto, 
bruto e elitista
que nos condena
a uma morte lenta.

No corpo carrego o diabo
e prego a deposição 
do absoluto déspota platônico 
que promete aos ingênuos 
um reino totalitário
em  algum outro mundo
onde há de nos impor
os rigores do seu inferno.
 
Nada é impossível 
a revolta mais sincera.
Prefiro ser livre entre os 
que passam fome
do que servir aos ricos e abastardos.

Pois um dia seremos redimidos
pela revolução de todos os de baixo
contra a opulência dos palácios.

A revolta é a mãe negra
das mais profundas
e sempre necessárias  mudanças.

Só a revolta liberta.



quarta-feira, 24 de abril de 2024

O LADO DE FORA DO SONHO

Estamos do lado de fora do sonho.
Por isso a vida e a natureza nos escapam.
Perdemos o mundo dentro de nós,
abdicamos de nossa imaginação
e renunciamos a infância.

 Existimos limitados a realidade mais banal e medíocre
do utilitarismo e do quantitativo.

Nos tornamos, assim,
menos que nada
pois nos reduzimos 
a condição humana
e a miséria do racional.

sábado, 20 de abril de 2024

O CORPO ESCUTA

O corpo escuta
principalmente 
quando fala mudo.

O corpo muda
ouvindo o mundo.

Mas não há mensagem
e muito menos diálogo
na fala que ele escuta.

Pois o corpo escuta
o que ninguém fala
Ele sabe onde não  há palavra.

O corpo escuta.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

A NUDEZ DO MUNDO

O mundo começa 
na ausência de pessoas.
Onde a natureza,
o nada e o sem tempo das coisas,
se harmonizam no devir do silêncio.

É onde nada acontece,
onde não há linguagem,
sujeito, objeto e razão,
que o mundo plenamente existe,
livre do homem, da história 
deuses e mitos da criação.